CONCEPÇÃO, CONTO EM PROGRESSO

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Concepção é um conto de ficção científica de pouco mais de 4 mil palavras. É sobre um casal que terá um wonder, um criança superdotada, em um nível nunca antes testemunhado pela humanidade. É um tema batido, quase desisti de terminar a história, mas acho que encontrei uma maneira de torná-la interessante. A narrativa já está solucionada, desenvolvimento de trama e de personagens. Agora estou cuidando da parte científica, pesquisando e perguntando a pessoas de determinadas áreas. Quero especular, inventar, a partir do que se já conhece sobre tópicos como desenvolvimento do cérebro, bioinformática, hackativismo e outros.

Leiam um trecho do conto:

Sua mãe deu um grito.
Fui correndo socorrê-la.
Ela tinha batido o joelho na porta da suíte.
Levei-a de volta para a cama e me deitei também. Enfiei minha mão por dentro de sua blusa. Comecei a acariciar a barriga já saliente.
“Quando é que a gente vai contar às pessoas, aos meus pais, aos seus?”, perguntou sua mãe, num tom manso, quase inaudível.
Respirei fundo.
“Acho que a gente não deve dizer nada por enquanto.”
“Não contar a ninguém?”, ela elevou um pouco a voz.
“Isso.”
“Até quando?”
“Não sei.”
Ficamos em silêncio por algum tempo.
Então eu perguntei:
“E como você está, de verdade?”
“Com medo…”
Resolvemos sair de casa. Sua mãe queria muito isso. Ela queria se distrair, talvez até dar algumas risadas. Principalmente, ela queria deixar o resto da conversa para depois.
Enquanto nos arrumávamos, eu a vi trocar de roupa, pentear o cabelo, passar uma maquiagem leve. Tentei me colocar no lugar dela. Ela achava que existia o que dentro de sua barriga? Uma bênção além de suas forças? Um projeto de monstro?
Desculpe se falo nestes termos, mas quero ser o mais sincero possível. Acho que você seria o primeiro a entender.

VALE PELA ARTE INCRÍVEL

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Adaptação para os quadrinhos do anti-herói Elric, criado por Michael Moorcock. O mérito da obra fica para a arte, com certeza, a melhor representação visual desse universo, onde magia, crueldade, beleza e o bizarro se misturam, em imagens de cair o queixo, inclusive para quem é acostumado a ler quadrinhos de fantasia. Já o roteiro é fraquinho, seguindo quase fielmente os primeiros capítulos do romance Elric of Melniboné.

Infelizmente, é uma adaptação curta e apressada, cortando muita coisa do material de origem. Nem sempre a versão em quadrinhos de um universo literário deve ser óbvio, sem surpresas para quem já conhece a fonte. Por exemplo, o roteirista Roy Thomas fez um belíssimo trabalho adaptando os contos de Conan, de Robert E. Howard, passando o vigor e a crueza do mundo do bárbaro, deleitando os fãs dos contos por ver seu herói em carne e osso.

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O mesmo não acontece com este Elric. Visualmente, ele é magnífico, mas está aquém de fazer justiça como representação do texto de Moorcock. Não passa o clima de fantasia subversiva, que inverte vários tropos do subgênero Espada e Magia.

Mesmo que seja o primeiro volume de uma série, ficou a sensação de obra incompleta além da conta, sem criar muita expectativa para o próximo número.

Elric, The Ruby Throne, de Julien Blondel, Robin Recht e Didier Poli, 64 págs., Titan.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

ANTES DE JOGOS VORAZES

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Depois de ler os 15 volumes deste mangá já clássico, posso dizer que o investimento de tempo e de grana valeram a pena. A obra satisfaz mais do que decepciona.

É uma narrativa longa, mas que desperdiça poucas páginas com material ruim. Os elementos que de fato prendem o leitor são o desenvolvimento dos personagens, por meio de vários pontos de vistas e flashbacks, e o suspense, cheio de reviravoltas e ganchos muito eficientes.

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O casamento entre ilustrações e texto é impressionante, principalmente, nas cenas de ação, numa dinâmica de cinema, quadro a quadro, podendo se estender por páginas e páginas até uma conclusão impactante.

Muitos podem reconhecer uma estrutura narrativa semelhante a de séries de TV americanas, como Lost. Além do tom distópico de batalha até a morte entre adolescentes dos romances e filmes da franquia Jogos Vorazes. Mas Battle Royale veio antes de tudo isso. Foi publicado no Japão, no início dos anos 2000, baseado num romance escrito pelo roteirista do mangá, nos anos 90.

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A decepção fica por conta do machismo que sexualiza e coloca em segundo plano várias personagens femininas, até as mais fortes física e emocionalmente. E há o melodrama típico de muitas produções da cultura pop japonesa, um romantismo bem conservador.

Apesar desses problemas, Battle Royale é uma das mais incríveis narrativas de suspense e ação que já li.

Battle Royale, de  Koushun Takami e Masayuki Taguchi, 15 volumes, Conrad e TokyoPop.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

FILME DE FANTASIA COM SAMURAIS

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Conto de fantasia, inspirado na cultura japonesa. Seu maior mérito é o ritmo. Mesmo que pareça alucinado em certas passagens, a prosa ágil cabe bem num texto curto como este. Mas existem momentos de calmaria, em que os personagens tomam fôlego para recuperar-se das batalhas e refletir melhor sobre suas motivações.

O maior problema do conto é a dispersão, os muitos pontos de vista, que confundem o leitor e tiram força do desenvolvimento dos personagens. Se os mesmos eventos fossem contados pelo ótica de um ou dois deles, no máximo, traria mais foco à trama. Faria com que o leitor se importasse mais com os protagonistas.

É uma leitura que vale a pena para conhecermos um autor com potencial para contar histórias empolgantes.

O filho de Kobyo, de Rodrigo van Kampen, 25 págs., Draco.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

A TERRÍVEL VERDADE

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Este é um suspense muito tenso. É um daqueles livros que você não consegue parar de ler. O autor é muito competente na maneira como elabora sua narrativa.

O protagonista é bem desenvolvido, com uma profundidade psicológica satisfatória. Mesmo sendo alguém imperfeito, queremos acompanhá-lo nessa trama estranha e ambígua. O agente Ethan Burke sofre horrores, mas mostra muita determinação para descobrir o que está acontecendo. Os outros personagens são decentes, cada um cumpre sua função na trama.

O ritmo do texto é geralmente ágil, mas os detalhes que dão verossimilhança a este mundo estão lá. A cada página, os mistérios e as bizarrices se acumulam. Você tenta adivinhar do que se trata, mas nunca tem certeza. Quando chegamos ao último capítulo, tudo é revelado. E faz sentido dentro da lógica interna do romance. Eu adivinhei o grande segredo da trama algumas páginas antes. Porém tive que ler quase o livro inteiro para tirar minhas próprias conclusões.

O romance é uma mistura de referências  a séries de TV, como Lost, Arquivo X e, principalmente, Twin Peaks, com alguma originalidade do autor. Se você não levar o desfecho muito a sério, se considerar a coisa toda mais como uma metáfora da condição humana, do que ciência propriamente dita, Pines é uma leitura divertida, uma aula de como escrever um suspense.

E fujam da série da Fox, Wayward Pines. É uma produção bem fraquinha, chocantemente amadora para os padrões americanos. Trata o material de origem de maneira muito rasa, sem a sutileza e o ritmo acertado do livro.

Pines faz parte de uma trilogia, seguido de Wayward e The Last Town. Vamos ver se teremos, nos próximos volumes, algumas explicações importantes que ficaram faltando a respeito da infraestrutura da cidade, de como ela funciona pela perspectiva dos moradores.

Pines, de Blake Crouch, 340 págs., Planeta.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

O TERROR NA INTIMIDADE

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Livro de contos para quem busca uma abordagem menos convencional do terror. É notório que a autora é fã do gênero. Inclusive, já traduziu e organizou antologias de Ambrose Bierce e Algernon Blackwood.

Os leitores acostumados a muito sangue, violência explícita e explicações no desfecho podem ficar decepcionados. O terror aqui pode ou não ser fruto do sobrenatural. A loucura, o delírio, o sonho, o pesadelo, a doença, o medo são mostrados, muitas vezes, de maneira oblíqua, por meio de impressões e incertezas.

No geral, o efeito das histórias é irregular. Algumas são conduzidas numa tensão de tirar o fôlego, terminando de forma sublime. Outras histórias são mais como exercícios de estilo e voz, que perdem muito da força pela narrativa ser arrastada ou frágil demais.

A poesia da prosa é, em geral, marcante, mas, em alguns momentos, a linha fica tênue entre o lírico e o rebuscado. Recomendo a leitura por ser um livro nacional muito bem escrito e corajoso por tentar quebrar a barreira entre a chamada alta literatura e o terror.

Pente de Vênus e novas histórias do amor assombrado, de Heloisa Seixas, 364 págs., Record.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE