FC MILITAR DE PRIMEIRA

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O mestre Gerson Lodi-Ribeiro prova mais uma vez porque pode ser considerado nosso grande autor de FC. Esta noveleta é uma delícia de leitura, que não fica nada a dever ao que de melhor é produzido por autores estrangeiros. É uma FC militar no estilo space fleet, um subgênero muito popular, com nomes internacionais consagrados.

Há vários elementos interessantes em No Amor… Com certeza, influenciado por suas leitura no subgênero, principalmente de autores mais contemporâneos, Lodi-Ribeiro desenvolve sua história num ambiente militar, mas sem triunfalismos, sem sentimentos cegos de honra, pátria e dever. O almirante Derek Medeiros “Maluco” Morgan é alguém que sente o peso de suas responsabilidades e questiona os efeitos de seus propósitos. Não é exatamente prazer o que ele sente sendo militar. A questão é que ele não sabe ser outra coisa.

Ao mesmo tempo, Lodi-Ribeiro cria seu próprio universo, dando seu toque de originalidade, com referências muito bem colocadas à língua portuguesa e culturas a ela relacionadas. Outro ponto interessantíssimo é a importância das mulheres na trama. Elas nunca servem de escada para os homens. A igualdade de condições aqui funciona muito bem. O texto é elegante, ágil, sagaz, engraçado, conduzido num impressionante ritmo de ação e suspense, tudo embalado num universo muito rico.

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Outro elemento bem sacado foi dar atenção, em paralelo, a perspectiva pessoal e a das batalhas. A vida particular e profissional do almirante se misturam em pleno combate. Isso dá uma maior relevância às ações dos personagens. E também dá mais motivos para o leitor se importar com tais personagens.

A única ressalva é o seu final, concluído sem tanto empenho, depois de páginas e páginas de muita tensão e suspense. Tudo se resolve muito rápido.

Esse universo é material para algo de maior fôlego, até mesmo uma série.

No Amor e na Guerra, de Gerson Lodi-Ribeiro, 49 págs., Draco.

AVALIAÇÃO: FRACO, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE.

MELHORES CONTOS DO BRASIL EM PROSA 2

Sem título

No próximo dia 22, serão divulgados os vinte finalistas do concurso Brasil em Prosa, promovido pela Amazon do Brasil, Samsung e jornal O Globo. Será a primeira etapa de seleção até chegar aos três vencedores. Num post anterior, eu tinha selecionado oito contos que me chamaram atenção entre mais de trinta lidos. Desta vez, escolhi outros oito depois de ter lido cerca de cinquenta contos.

Dezoito Andares, de Laura Assis. Aqui está uma ótima combinação entre ideia e execução. A boa ideia por trás do conto ganha muita força com a prosa fluida e intensa de Laura Assis. É uma FC original tanto por seu tema como pela maneira como o texto se desenvolve, numa dura poesia do desespero. É material inclusive para um obra de maior fôlego. A capa belíssima por sua austeridade, por sua composição opressiva, representa bem o clima da história. As únicas ressalvas são a falta de maiores informações sobre a edição e a autora e alguns vacilos na revisão.

Mar Inverso, de Lucas Odersvank. Este conto mostra um texto com uma poesia potente, eu diria até visceral. As imagens causam impacto pela invenção e profundidade. O texto é pura hipnose. Depois vem o tapa na cara. O chocante é que toda essa poesia leva o leitor para um desfecho surpreendentemente anti-poético, duro, pragmático, causando um contraste de rara beleza. A edição é completíssima, muito bem cuidada, inclusive com ilustrações, convidando a conhecer mais a obra do autor (aliás, vale a pena conferir seu site). A capa é bonita, enigmática, tudo a ver.

Tudo Começou com Bach, de Amanda de Andrade. Muitas vezes, o que mais importa num texto literário é sua “pegada”. As palavras certas ditas da maneira mais convincente, mais profunda, menos óbvia. Isso pode fazer com que uma história de amor se torne algo além do clichê. Amanda de Andrade conseguiu um belo feito ao armar uma conturbada relação de um casal ao redor da música. É um conto sensível sem ser piegas. A capa é discreta demais. Algo um pouco mais elaborado poderia atrair mais leitores para um texto que merece atenção. A revisão tem certos vacilos e infelizmente não há nenhuma informação sobre a autora.

O Acorde Vermelho, de Philippe Alencar. O texto é elegante e atento aos detalhes. Sua força está no tom, na voz narrativa. No que dizer, no que não dizer e no como dizer. Assim como o músico experiente da história, o autor é um virtuose, que sabe mexer com as emoções e as ideias do leitor. Pena que a edição seja tão fraquinha. Não há qualquer informação sobre o livro ou o autor. A capa é simples, adequada e bonita.

Sonífera Ilha, de André Timm. O conto é uma profunda narrativa sobre o ato de nadar, literal e metaforicamente. O ato de colocar o corpo na água e tentar vencer sua resistência também é visto como uma maneira de perder e retomar o controle de si mesmo, a todo momento. As imagens do texto de André Timm são poderosas e inconclusas. Assim como um mar aberto, deixam todo um horizonte para reflexões. A edição está bem cuidada. A capa é belíssima.

A Casa Torta, de Daniel Cariello. É um conto leve, mágico e encantador. A família protagonista é bem peculiar, assim como o mundo que a rodeia. Durante a leitura, um nome me veio à mente: Gabriel Garcia Marquez. O texto de Daniel Cariello é tradicional, no que há de melhor nisso, é direto, bem marcado e simples. A edição está ok, com informações sobre o autor. E a capa tem um delicioso toque de nostalgia.

Dandara, de Newton Nitro. Conheço outros contos de Newton Nitro, sei que ele está ralando no seu primeiro romance de fantasia épica. Mas esse conto foi algo que me pegou de jeito. Sinceramente, pela primeira vez, tive uma amostra de que o autor pode de fato se tornar acima da média. Sua construção para esse Dandara é excelente, desde a ideia em abordar a história pela perspectiva pouco convencional de uma guerreira negra, passando pela “criação” de um mundo rico, elaborando muitos detalhes em poucas linhas, e chegando à narrativa ágil, ao mesmo tempo, poética e brutal. É uma fantasia utilizando nossa História de maneira criativa, mas também com muita pesquisa. A edição é completa com informações sobre o livro e o autor, inclusive com referências bibliográficas. A capa é simples, mas de grande impacto.

Doses de Orgulho e Vergonha, de T. K. Pereira. O maior mérito do conto é a segurança narrativa do autor. O texto vai levando a gente pela competência na execução. Isso quer dizer que T.K. Pereira sabe escrever bem. Agora senti falta de um protagonista mais carismático. Não importa se mocinho, ou vilão, ou as duas coisas combinadas, mas alguém que tornasse a narrativa ainda mais impactante. Durante a leitura, não consegui me ligar totalmente na história, porque ficava admirando certos aspectos do talento do autor. Se eu tivesse me conectado com o protagonista, essa admiração só viria terminada a leitura. A edição está bem cuidada com informações completas. A capa cumpre sua função.

TÊNIS, QUADRA PARA A REVOLUÇÃO

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É muito interessante quando o esporte, no caso aqui o tênis, aparentemente um campo de atuação apolítico (na verdade, isso é uma falácia), torna-se palco de uma luta que transcende o próprio esporte. The Battle of the Sexes é um documentário sobre uma lendária partida de tênis entre um tenista veterano, o fanfarrão Bobby Riggs, e uma jovem tenista, a focada Billie Jean King, nos 1970.

Na época, o tênis feminino não era tão profissional como hoje. As tenistas tentavam ganhar o mesmo que os homens em premiações com o argumento de que elas também conseguiam atrair publico e dinheiro para o esporte. Não era uma questão de quantidade de sets, nem de maior ou menor esforço físico. A equivalência das premiações seria um reconhecimento concreto da importância cultural e econômica do tênis feminino.

Paralelo à história da partida entre King e Riggs, acompanha-se a luta das “original nine”, as nove tenistas que fizeram uma revolução ao criar a WTA, a hoje poderosa Associação de Tênis Feminino, cuja atual número 1 é Serena Williams. A cabeça desse movimento foi justamente Billie Jean King.

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Riggs queria provar que as tenistas não mereciam ser tratadas como iguais. Ele desafiou King, afirmando que a massacraria em quadra. King aceitou a partida, como uma forma de afirmação da luta travada por ela e suas companheiras.

O documentário não é só para fãs de tênis (eu mesmo assisto partidas esporadicamente), mas para qualquer um interessado na história do movimento dos direitos civis. 

The Battle of the Sexes (2013), de James Erskine e Zara Heyes, 83 min. 

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE