UMA BELA JORNADA, MAS INCOMPLETA

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Minha expectativa era enorme em relação ao Caçador Cibernético da Rua 13. Eu já tinha lido contos do autor Fábio Kabral, inclusive, um passado no universo do livro. Terminada a leitura, cheguei à conclusão de que a jornada valeu a pena, mas ela podia ter sido bem mais completa.

O Caçador foi lançado meses antes da estreia do filme Pantera Negra. Depois de ver a produção da Marvel, muita gente ficou entusiasmada com o afrofuturismo, a mistura de tecnologia não-branca com ancestralidade africana. E o romance de Kabral estava ali pronto para saciar essa vontade do público.

Quem acompanha Kabral nas redes sociais sabe como ele é fã de quadrinhos, RPGs, filmes, séries e literatura, principalmente, de autores negros, que falam com orgulho de sua negritude e denunciam o racismo histórico até os dias de hoje. Portanto, as referências são muitas. Mas O Caçador mostra originalidade ao criar o mundo de Ketu Três. E essa é a grande força do livro.

O tom é mais leve, a violência não é tão gráfica, porém acompanhamos as terríveis maquinações dos poderosos. Elas existem até mesmo em um lugar onde a promessa da utopia é palpável.

Kabral é um pioneiro ao levar para um número maior de leitores o conceito do afrofuturismo, torná-lo presente na literatura brasileira, uma referência pop por aqui. Apesar de já existir exemplos do movimento em nosso cinema (Branco Sai, Preto Fica), artes plásticas (Dúdús) e música (Senzala Hi-Tech), antes do lançamento de O Caçador.

Contudo, no que o livro tem de fascinante em seu worldbuilding, com o uso de uma imaginação vibrante para valorizar a diversidade e transformar mulheres e homens negros em protagonistas de suas próprias histórias, ele não preenche todas as expectativas em termos narrativos.

Mesmo com a agilidade do texto cinematográfico, em certos capítulos, o leitor pode se aborrecer com as digressões do protagonista, que não fazem a história avançar. Os longos flashbacks quebram o ritmo da trama. E o texto poderia ter uma melhor revisão, principalmente, em relação à pontuação e à repetição de palavras que não tem nenhuma função estilística.

O Caçador Cibernético da Rua 13 mistura referências do candomblé com tecnologias inovadoras, fantasia e ficção científica. É um livro que reflete sobre o pesadelo do passado, a transformação do presente e as possibilidades para o futuro de quem que ainda luta por igualdade.

O romance de Fábio Kabral deve ser celebrado como algo novo na literatura brasileira, um aviso do que estar por vir.

O Caçador Cibernético da Rua 13, de Fábio Kabral, 208 págs., Malê.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE.

RICK AND MORTY

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O Universo é indiferente
que nem o arroto de Rick.
Mas a gente se importa.
Somos todos o Morty C-137
mostrando o dedo médio
para outro Morty de
um universo paralelo
qualquer.
A crise existencial de Rick
gerou o Big Bang.
Quando ele encarar seus demônios
lamberá as bolas de quem?
O episódio acaba
a música do Evil Morty ataca
não Marte.

(Ricardo Santos)

 

OUÇAM MINHA PARTICIPAÇÃO NA ODISSEIA

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Andriolli Costa é um saciólogo. Explico. Na verdade, ele é escritor e acadêmico, especialista em folclore nacional. Eu tive a honra de fazer parte do bate-papo Órixás e o Folclore em Ação, na V Odisseia de Literatura Fantástica, com ele e os escritores Lauro Kociuba e Nikelen Witter. Foi uma conversa cheia de informações, numa tentativa de quebrar barreiras, em defesa da compreensão do outro. Para ver aquilo que nos é estranho ou familiar com olhos mais afetuosos. Claro que não podia faltar uma polêmica. Mas a elegância dos participantes da mesa tornou a coisa toda um momento de celebração e enriquecimento sobre o que é mito, folclore e religião. Clicando na imagem, você pode ouvir a versão em áudio desse debate, graças ao incrível projeto O Colecionador de Sacis, capitaneado pelo Andriolli. Bom programa!

MINHA V ODISSEIA DE LITERATURA FANTÁSTICA

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foto: Renata Cezimbra

O que dizer da minha experiência nessa V Odisseia? Baita lugar comum, mas vou falar sem medo de ser brega: FOI FANTÁSTICO! Pela primeira vez, testemunhei que, sim, existe uma cena de literatura fantástica no Brasil, criativa e batalhadora. E que, de alguma maneira, eu faço parte disso. Encontrei escritores em vários níveis: desde quem ainda pensa em escrever o primeiro livro ao autor consagrado. Além de conhecer editores, pesquisadores, capistas, diagramadores, ilustradores, artistas gráficos em geral e produtores culturais. Gente que já eram amigos virtuais e novas pessoas. Fiz contatos para futuros projetos meus, para prestação de serviços de uma galera muito talentosa.

Tive a honra (e a cara de pau de leitor fascinado pelo tema) de participar de uma mesa sobre Orixás e o Folclore Nacional, dividindo a fala com gente que preza muito a cultura popular: Nikelen WitterAndriolli Costa e Lauro Kociuba. Foi um grande aprendizado.

A Odisseia também foi uma correria danada. Muita gente pra ver em tão pouco tempo. Reencontrei amigos. Finalmente abracei e bati um papo ao vivo com amigos virtuais de anos. E troquei ideias com autores que eu admiro. Comprei livros, mas não consegui o autógrafo de todos, nem consegui tirar foto com todos. Fiquei feliz pelas boas conversas que tive com Artur VecchiDuda FalcãoAlex MandarinoMarcelo Augusto GalvãoRoberta SpindlerIan Fraser, Samir Machado de Machado, Thomas Olde Heuvelt, Andre Zanki Cordenonsi e Ana Cristina Rodrigues. E triste por ter apenas dito oi ou nem isso a Marco Antonio Santos FreitasJanayna Bianchi PinCristina LasaitisEvelyn PostaliChristopher KastensmidtKátia Regina SouzaKyanja LeeCesar Alcázar e Adri Amaral. Com certeza, a V Odisseia de Literatura Fantástica se tornou pra mim um marco. A minha Batalha de Yavin.

Quero agradecer ao Artur Vecchi pela generosidade e por realmente acreditar nos novos autores e tratá-los com tanto profissionalismo. Seu convite para a Odisseia foi aceito na hora, porque eu sabia que só tinha a ganhar. E minhas expectativas foram superadas. Obrigado também ao César Alcázar por fechar os detalhes da minha participação. E claro, agradeço ao Duda Falcão, Cristiane Marçal e Christian David por também terem proporcionado mais um momento de vitória da lit fan nacional.