VALERIAN: UM FILME RUIM, MAS IMPERDÍVEL

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Tinha tudo para ser um filmaço, mas a promessa ficou no meio do caminho. Luc Besson apostou alto e perdeu, tanto do ponto de vista criativo quanto financeiro. Teve ambição. Produziu, dirigiu e escreveu. Só que se aproximou mais do George Lucas dos prequels de Star Wars do que do James Cameron de Titanic e Avatar. Besson estava apaixonado demais pelo seu projeto dos sonhos para perceber as falhas. Resultado: o espectador, com bastante paciência, tem que garimpar para ver o que há de melhor em Valerian. Apesar de seus graves problemas, o filme deve ser visto no cinema. Traz conceitos e visuais que você só verá nele, de maneira deslumbrante.

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Luc Besson é um diretor brega e piegas, mas já mostrou que sabe criar mundos fora dos padrões e personagens imprevisíveis e cativantes. Nikita ainda é seu melhor trabalho. Um filme de ação francês dos anos 90, cruel, punk, que chamou a atenção de Hollywood pela maneira nada moralista de fazer entretenimento à maneira americana. O Profissional já mostra um Besson mais domesticado. Mas ainda assim, o filme é perverso. Uma história de amor violenta e pra lá de controversa, nas entrelinhas. Em O Quinto Elemento, seu projeto mais ambicioso até então, acompanhamos uma divertida homenagem à ficção científica europeia.

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Visualmente, Valerian é seu filme mais maduro e sofisticado. A abertura, ao som de David Bowie, mostrando a origem de Alpha, a Cidade dos Mil Planetas, é empolgante. E o primeiro terço do filme mostra mais qualidades do que defeitos. Apesar da falta de carisma da dupla protagonista e dos diálogos ruins, o espectador compra a ideia com sua trama basicona e ágil e a estranheza da visão europeia do que é ficção científica no cinema, em seus cenários e criaturas. A sequência do deserto, em que a ação acontece em universos paralelos simultaneamente, é original e muito bem executada.

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A todo momento, assistindo ao filme, pensamos: isso é Star Wars, aquilo é Star Wars. Além de outras referências, como Matrix e Avatar. Mas, na verdade, devemos lembrar que Valerian é inspirado nos quadrinhos clássicos de mesmo nome, da dupla Pierre Christin e Jean Claude Mézières. Referências do próprio George Lucas para a criação do seu universo (alguns dizem que foi roubo de conceitos descarado). Com a adaptação de Valérian, agent spatio-temporel (mais tarde rebatizada de Valérian et Laureline), Luc Besson finalmente pôde realizar um sonho de infância.

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Valerian apresenta uma visão mais ingênua e otimista de uma FC cheia de raças alienígenas e conflitos de interesses. O clima é de sessão da tarde. Mas, no geral, o filme se torna mais ousado do que Star Wars. Primeiro, no visual mais pirado e lisérgico. Segundo, ao dar maior relevância aos personagens aliens. Aqui eles são parte importante da trama e muitas vezes superam a performance dos personagens humanos.

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Os maiores problemas de Valerian são o roteiro, cheio de furos, diálogos terríveis, humor pouco eficiente, subtramas confusas ou desinteressantes, e exposição desnecessária ou repetitiva. O elenco mal escalado ou mal dirigido. E a duração do filme, 137 minutos. Podiam ter cortado uns 30 minutos. Era para ser um ser um filme mais ágil. Assim seu subtexto anti-guerra ganharia maior relevância. Porque o espectador sai meio esgotado da experiência. Parece que Luc Besson teve pena de cortar aquelas cenas deletadas que vão para o Blue-Ray.

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Afinal, vale o ingresso? Para fãs de FC, o filme é obrigatório. Não saí do cinema puto da vida. Já sabia mais ou menos o que esperar. Mesmo assim, fui surpreendido com os melhores momentos.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Valerian and the City of a Thousand Planets), de Luc Besson, 137 min., EuropaCorp e outros.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO, EXCELENTE

ESTRANHA BAHIA NO RÁDIO

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Participei, na Rádio Showtime, do programa O Marco de Hoje, comandado por Marco Antonio Santos Freitas. Falei um pouco sobre minhas origens como viciado em cultura pop, referências literárias, novos autores e a coletânea Estranha Bahia. Na primeira metade do programa, há uma deliciosa seleção de canções dos anos 50 a 80, que tinham tudo para fazer sucesso, mas não decolaram. Minha entrevista começa em 35:10. Para ouvir o programa é só clicar na imagem.

AULAS DE UM MESTRE REBELDE

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Luiz Bras é um provocador. Em seu manual de escrita, ele propõe o seguinte: não dê tanta bola para regras. Na verdade, ele propõe que a gente aprenda a construir para depois desconstruir. Seu discurso rebelde não é vazio. Bras mostra muito conhecimento de causa, muita leitura. O pulo do gato é o que ele faz com toda essa bagagem. Segundo ele, devemos ler muito, de tudo, para nos tornamos leitores mais completos, e, por tabela, escritores menos convencionais, avessos a preconceitos. O melhor leitor/escritor é aquele que não coloca hierarquias, por exemplo, em Thomas Pynchon e Stephen King, reconhecendo o valor de cada um. Seu Ateliê de Criação não segue a estrutura de outros manuais. É uma colagem de textos que cabe de tudo: propostas para uma oficina literária, com sugestões de leitura e exercícios práticos; reflexões teóricas na forma de poesia; artigos e crônicas sobre vários temas pertinentes da literatura. O livro está repleto daqueles insights sobre escrever que tanto adoramos nesse tipo de obra. Eu mesmo marquei várias passagens. É uma leitura curta, prazerosa e sábia.

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