DIVERSIDADE NA CULTURA POP PARA JOVENS

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Como vivemos numa sociedade complexa, uma mentalidade preconceituosa dificilmente pensa de maneira isolada, compartimentalizando seu preconceito, escolhendo apenas uma bandeira para lançar seu ódio, apesar do senso comum dizer o contrário.

Em determinada situação, um preconceito pode sobressair, mas geralmente, ao fundo, outros preconceitos apenas estão esperando sua vez para mostrar a cara. Isso quando não o fazem todos juntos, num verdadeiro “ataque de gangue”. Ou seja, a chance de alguém ser racista e também misógino, homofóbico e islamofóbico é bastante forte. Por isso, não adianta o homem negro lutar contra o racismo se ele é um machista, mesmo que fofo. Não adianta a mulher branca lutar por direitos iguais entre os gêneros se ela acha que outras mulheres importam menos por serem negras, asiáticas, indígenas…

Todo tipo de preconceito deve ser combatido por todo mundo. O raciocínio é simples: se algo agride a dignidade humana, então deve ser enfrentado. Vamos julgar as pessoas pelo caráter de cada uma e não por que elas são diferentes de você. E essa transformação de mentalidade deve começar pelas crianças.

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Devemos ajudá-las a se tornar seres humanos mais decentes. E a cultura pop pode contribuir muito. Cada vez mais, vejo desenhos animados, quadrinhos e livros infanto-juvenis fazendo seu papel de mostrar às crianças e jovens como o mundo é mais complicado, rico e diverso do que até mesmo as escolas ensinam.

Então fico babando quando vejo uma HQ como da nova Miss Marvel, Kamala Khan, uma super-heroína adolescente muçulmana; o desenho animado Steven Universe, sobre um garoto com poderes mágicos que é criado por três mulheres alienígenas; e os romances juvenis de Terry Pratchett, que, em meio a magos, bruxas, animais falantes e deuses, faz críticas mordazes sobre muitas convenções de nossa sociedade.

34534E o melhor de tudo é que obras como essas nunca buscam “ensinar” ninguém, falando num tom pejorativo mesmo. Nenhuma dessas histórias são chatas, nenhuma perde o talento de encantar. Seus autores “apenas” contam histórias. Eles não forçam a barra. Eles não querem dar respostas fáceis, e sim instigar seus jovens leitores a pensar diferente, a fazer perguntas diferentes, que, afinal, vão estar mais próximas, mais ligadas, ao mundo complexo em que vivemos.

11294455_10153915497143102_708838674_oEsse tipo de HQ, desenho animado e livro faz muito bem seu trabalho de abrir a cabeça da garotada com humor, sutileza, ironia e muita atitude. Na superfície, a coisa é bem simples. Nas entrelinhas, o subtexto come solto, revelando visões de mundo muito interessantes, até para adultos. No Brasil, vejo que obras assim também estão despontando. Eu só gostaria que o ritmo fosse mais intenso.

Como consumidor de cultura pop, sempre fui fã desse tipo de obra infanto-juvenil, que, no final das contas, consegue se comunicar com gente de todas as idades. Então, quando resolvi escrever meu primeiro romance, minha tentativa foi nesse sentido. É algo aparentemente simples de fazer, mas que, na verdade, dá um trabalho danado. E muita satisfação!

TODOS MERECEM LER

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Eu estava no carro quando ouvi no rádio uma entrevista com Aurélio Schommer, curador da Flica (Festa Literária de Cachoeira). Ele comemorava os cinco anos de sucesso do evento, que se passa na deliciosa região do recôncavo baiano, onde é possível apreciar belas paisagens e comer pratos maravilhosos.

Torço muito pela Flica, porque o calendário cultural baiano precisa de eventos além do Carnaval e do Festival de Verão, como temos a Mostra de Cinema em Vitória da Conquista, o Festival de Jazz na Chapada Diamantina e por aí vai. Mas algo na fala dele me incomodou. Em resumo, ele disse que a Bahia precisa de festas literárias e não de feiras de livros. Para ele, festas como a Flica celebram a literatura, e feiras vendem livros. Mas qual é o problema em vender livros? Como podemos fortalecer nosso mercado editorial e tornar a relação editoras-autores menos frágil se livros não forem vendidos? 

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Em 2015, a Feira de Livros da Bahia, ou Bienal do Livro Bahia, foi pro saco com a reforma do Centro de Convenções de Salvador. A Feira sempre acontecia em anos ímpares. A próxima será em 2016. Com problemas e méritos, uma feira de livros atrai público, faz do livro um acontecimento, coloca-o no centro das atenções. Qualquer ajuda é muito bem-vinda.

A mancada do comentário do curador da Flica está em não reconhecer a função gregária do livro. Apesar de ser, geralmente, um prazer solitário, a leitura gera muito barulho, no sentido de que as pessoas querem trocar ideias sobre os livros, séries, personagens, autores, temas e áreas de conhecimento de que mais gostam. Devemos ter um discurso inclusivo na hora de falar de leitura, de livros. Tanto a Flica como Bienal do Livro Bahia são eventos fundamentais no calendário cultural do Estado, que devem se fortalecer a cada nova edição. Vamos pensar em todos os públicos leitores!