ANTOLOGIA MORTO ANTES DO AMANHECER

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A Corvus é uma editora baiana que aposta no fantástico nacional. Na antologia Morto antes do amanhecer, participo com o conto Banho de ódio, uma mistura de slasher e crítica social. Clique na imagem para saber mais informações sobre o livro. Na hora da compra, use o cupom RSANTOS.

CHEGOU A ANTOLOGIA FARRAS FANTÁSTICAS!

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Desde o dia 15 de janeiro está aberto o edital da antologia Farras Fantásticas, organizada por mim Ricardo Santos, Ian Fraser, João Mendes e Pedro Duarte. Juntamos nossa vontade e nossas experiências para publicar um puta livro, em parceria com a editora Corvus, para valorizar os autores do fantástico do Nordeste. Ainda não revelamos nosso time de autores convidados, mas está sensacional. É uma galera que traz muito talento e representatividade pro Farras. Porque o Nordeste também é diversidade. Quer fazer parte desse projeto lindo, 100% nordestino e 100% brasileiro? Clique na imagem para saber mais.

CONCURSO DE RESENHAS ESTRANHA BAHIA

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Você quer ganhar um monte de livros? Então é muito fácil. Em parceira com o canal Passos Entre Linhas, estamos promovendo um concurso de resenhas. Para concorrer, você deve ter lido ou correr para ler a coletânea Estranha Bahia. Depois você vai lá na Amazon e faz uma resenha do livro. As resenhas postadas entre os dias 08 de dezembro e 15 de janeiro estarão concorrendo a três kits de livros. No dia 20 de janeiro, Lorena Ribeiro do canal Passos Entre Linhas vai anunciar quais foram, na avaliação dela, as três melhores resenhas. Para conhecer os livros dos kits, é só clicar na imagem. A versão física da Estranha Bahia está à venda na livraria LDM.

OS 6 MELHORES LIVROS QUE LI EM 2019

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6 – A telepatia são os outros, de Ana Rüsche: Irene, uma fisioterapeuta brasileira de meia-idade, vai para o Chile de férias e acaba no meio de uma trama tensa e intensa, envolvendo a indústria farmacêutica, um misterioso grupo de pesquisadores e um chá que possibilita a conexão de mentes. Essa novela traz algo novo para a ficção científica nacional e é uma ótima porta de entrada para conhecer o gênero. Em suas poucas páginas, há um mar de informações, mas nada é jogado aleatoriamente. Há rigor na pesquisa da autora. E leveza em sua imaginação, ao criar personagens e situações que se vinculam com a obra de uma Ursula K. Le Guin, por exemplo, outra autora de ideias questionadoras do estado das coisas, imbuída de uma criatividade “ecológica”, digamos assim, de busca do melhor entendimento entre ser humano e natureza. Ana Rüsche também é poeta, o que fica evidente em algumas passagens, elevando a beleza e os significados de sua prosa.

5 – The Pisces, de Melissa Broder: Certa noite, sozinha na praia, Lucy, uma acadêmica de quase quarenta anos, conhece Theo, um nadador deslumbrante de vinte e poucos. Para espanto e admiração dela, ele acaba se revelando um sereio. O que faz desse romance uma leitura envolvente é a voz narrativa. Lucy conta sua história em primeira pessoa, revelando com muita honestidade e ironia seu caos emocional. Fala-se de amor, sexo, carreira, maternidade, expectativa social e outros temas caros às mulheres, sob a perspectiva de alguém que questiona tudo e todos. The Pisces fala sobre uma mulher no limite justamente por não saber direito seu lugar no mundo.

4 – Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior: Itamar é o mais importante autor baiano da atualidade. Vencedor da última edição do Prêmio Leya, seu romance teve extensa cobertura da mídia portuguesa. Lançado no Brasil pela editora Todavia, a carreira de sucesso do livro continuou. Com certeza, em 2020, será um forte concorrente aos principais prêmios literários do país. Itamar segue a tradição dos grandes autores baianos em aliar inquietação política e filosófica com apuro literário. Em Torto Arado, o foco é a gente sofrida, os desassistidos, as minorias, os invisíveis sociais. Mas o autor descarta naturalismos fáceis. Numa prosa fluente e ritmada, cheia de uma poesia dura e contundente, acompanhamos a histórias de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, mulheres negras, da zona rural. O triunfo literário do romance é construção da visão de mundo das protagonistas. Apesar das enormes dificuldades da vida, das explorações e humilhações, ambas são pessoas de “carne e osso”, conscientes de suas limitações e possibilidades. Essa atmosfera lembra muito o cinema e a literatura italiana dos anos 1960 e 1970, que representava a tomada de consciência política do proletariado. Em Torto Arado, vemos uma perspectiva “de dentro”, o protagonismo do povo negro rural, sem intermediários, digamos assim. Fruto de primorosa pesquisa, e mais do que isso, fruto da sensibilidade do autor, que faz um resgate de parte das origens do Brasil, ligando passado e presente.

3 – A Parábola do Semeador, de Octavia E. Butler: Acompanhamos os Estados Unidos no futuro, após uma crise ambiental e econômica, em que comunidades com melhores recursos se fecham por trás de muros. Há uma tentativa de levar uma vida normal num mundo em convulsão, com escolas, empregos e relações sociais e familiares, mas a tensão é constante. Por meio do olhar afiado da jovem Lauren Olamina, acompanhamos pessoas tendo de fazer escolhas difíceis, passando por dilemas para manter sua humanidade. A própria Lauren sofre bastante com os acontecimentos. Ela tem um poder de hipersensibilidade, que a faz absorver a dor física alheia. Em meio a tanta violência, incerteza e desesperança, Lauren resolve criar uma nova religião, que promove a comunhão entre o ser humano e a natureza. A tradução preserva o ritmo e a força do texto original.

2 – Use of Weapons, de Iain M. Banks: A série de ficção científica The Culture é composta por livros independentes (com alguns pontos de ligação) dentro de um mesmo universo. The Culture é uma sociedade no futuro, numa galáxia distante, em que humanos aprimorados e inteligências artificiais convivem numa espécie de sociedade utópica. Mas isso não quer dizer que não existam relações complexas, disputas entre pessoas e máquinas. Em Use of Weapons, considerado o terceiro livro da série, acompanhamos uma trama de espionagem política. O romance é conhecido por sua estrutura narrativa de cair o queixo, com duas linhas temporais, uma que avança no tempo e outra que recua até a infância do protagonista. E pela chocante revelação final. Melhor dizendo, pelas duas revelações finais. E uma delas tem a ver com uma cadeira. Use of Weapons é uma meditação brutal, cheia de uma poesia melancólica e uma ironia afiada, sobre a vontade de subjugar, seja no âmbito pessoal ou coletivo.

1 – As coisas que perdemos no fogo, de Mariana Enriquez: A autora argentina apresenta ao leitor brasileiro um dos livros de ficção mais impactantes da última década. Os seus contos investem no terror de forma visceral. É assustador porque os horrores do cotidiano da classe média e da periferia de Buenos Aires e da história recente da Argentina são transformados numa literatura claustrofóbica, ampliando significados e efeitos do comportamento humano e de mazelas sociais e políticas. Aqui o foco são meninas e mulheres. As protagonistas estão à vontade na posição de gente branca com algum dinheiro, mesmo que meio decadente. Mas Enriquez nunca é leviana. Aliás, é por meio de sua consciência de classe e de gênero que ela aperta os botões certos para nos apavorar. Estas protagonistas geralmente se colocam em situações perturbadoras, testemunhas do que há de pior na sociedade. Em ritmo de suspense, cada conto nos envolve e desestabiliza, à medida que avançamos em atmosferas pesadas, em lugares sujos, sombrios e abandonados, habitados por personagens trágicos. A bela edição da editora Intrínseca, com tradução e revisão impecáveis, não nos distrai, não nos deixa sair desse mundo. Leitura para estômagos fortes.

 

OS 6 MELHORES FILMES QUE VI EM 2019

 

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6 – Nós (2019), de Jordan Peele: Jordan Peele conseguiu de novo. Entregou ao espectador mais um filme de impacto, tanto do ponto de vista estético quanto reflexivo. Corra! é mais coeso, mas mesmo assim Nós mostra uma evolução de Peele como cineasta. O primeiro terço do filme tem um ritmo impressionante. Praticamente nada acontece, mas o que vemos tem uma fotografia tão elaborada, uma montagem tão cadenciada e diálogos e atuações tão marcantes, que não importa. Acompanhamos o cotidiano da família protagonista com um sorriso besta na cara, sem desejar que nada se apresse. A influência de Hitchcock é evidente, o diretor que construía seus suspenses sofisticados para o público médio como um reflexo apavorante desse mesmo público. E quando a violência começa, nos deparamos com um dos filmes de terror mais criativos e perturbadores dos últimos tempos. Uma mistura de homenagem e subversão ao cinema de horror dos anos 70 e 80. Nós é algo inédito no cinema em geral, por trazer uma nova perspectiva, uma nova voz para Hollywood, confirmando o talento de Jordan Peele como um mestre do terror.

5 – Homem-Aranha no Aranhaverso (2018), de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman:  Saí chocado do cinema depois de ver esse filme. Achei isso no calor do momento e reafirmo quase um ano depois: é o melhor filme de super-herói de todos os tempos. A técnica de animação é incrível, praticamente uma HQ em movimento. O arco de Miles Morales é vibrante e emocionante. Peter B. Parker é uma maravilhosa desconstrução do Homem-Aranha. E ainda de quebra tivemos um dos grandes super-vilões da telona: Prowler. Que tema musical é aquele! E a cena pós-crédito é hilária, abrindo possibilidade para uma baita continuação. Oscar merecidíssimo.

4 – Suspiria (2018), de Luca Guadagnino: Nem sempre um remake é uma perda de tempo, um crime contra a obra original. Suspiria, de 1977, é um clássico do terror italiano, do giallo, o filme mais celebrado do mestre Dario Argento. Em 2018, o também italiano Luca Guadagnino, diretor do aclamado “Me chame pelo seu nome”, lançou uma nova versão de Suspiria. No final das contas, Guadagnino se saiu muito bem da enrascada em que se meteu. Justamente por ter sido infiel à obra original. A premissa é a mesma. Uma estudante de balé americana vai para uma prestigiada academia na Alemanha Ocidental dos anos 1970 e coisas bizarras começam a acontecer. Mas Guadagnino opta por fazer um filme feminista e político (uma espécie de resposta contemporânea ao giallo, um subgênero bastante machista), com um gore mais “realista” e visceral. Mostra uma crueldade feminina implacável. Porque, mesmo no grotesco, há sabedoria, beleza e libertação.

3 – Em Chamas (2018), de Lee Chang-dong : É um suspense perturbador justamente porque nos colocar para pensar, para preencher as lacunas deixadas pelo caminho. É um filme lento, mas com uma tensão crescente, que nos desestabiliza ao acrescentar mais e mais mistérios ao invés de solucioná-los. Nas entrelinhas, Em Chamas diz muito sobre o estado das coisas do capitalismo. De um lado, há as incertezas do jovem pobre e sem emprego, alguém praticamente descartável. Do outro, a total falta de empatia das classes mais abastadas. A produção é primorosa em sua simplicidade. A montagem é precisa, a fotografia eleva o cotidiano, e os personagens falam o estritamente necessário.

2 – Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles: Bacurau é um filmaço. Irregular, mas feito com muito tesão. Cheio de consciência estética e política. Os diretores reconhecem e enaltecem a influência do cinema de gênero (terror, western, thriller, ficção científica). Citam mestres como John Carpenter, George Romero, Sergio Leoni, Sergio Corbucci e Sam Peckinpah. Mendonça e Dornelles bebem de todas essas fontes para apresentar um filme vibrante em seus melhores momentos. É divertido, tenso, movimentado e reflexivo. A verdadeira protagonista é a cidade de Bacurau, com seu povo, sua história, seu senso de comunidade, escassa de recursos (onde falta água, mas há internet), politicamente madura, em prol da diversidade. Uma utopia possível encravada no sertão pernambucano, ameaçada por um poder vil que recusa a dizer seu nome.

1 – Parasita (2019), de Bong Joon-ho:  Os filmes de Bong Joon-ho são obras de arte, de reflexão numa roupagem de entretenimento. Ele quebra as barreiras do cinema de autor e do cinema comercial. Para ele, se divertir e pensar são dois lados da mesma moeda. Parasita é seu filme mais maduro por ser o mais paciente em nos envolver em suas ideias. A tensão é pontual. Mas quando surge nos desarma por completo. Na verdade, a grande sacada de Parasita é a quebra de nossas expectativas. Há vários filmes em um só. Comédia, suspense, drama, terror. O diretor alterna a condução da trama entre esses gêneros com extrema habilidade e nunca de forma gratuita. Temos aqui mais um exemplo de filme sul-coreano que faz uma crítica devastadora da desumanização do capitalismo.