A DC PODE SUPERAR A MARVEL NO CINEMA

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A Marvel está sapateando na cabeça da DC, no cinema, tanto nas bilheterias como na qualidade criativa de seus filmes. Mas a DC pode puxar o tapete da Marvel em breve.

Na verdade, a Warner/DC é a veterana em fazer filmes de super-heróis, começando lá atrás, nos anos 70, com o primeiro Superman. E reinou absoluta nesse filão por décadas. Tudo bem que apenas investindo em seus dois heróis mais icônicos, Superman e Batman. Mas foram filmes importantes para estabelecer, no mainstream, algo que ficava restrito ao fandom.

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Enquanto que a Marvel, por muitos anos, nunca teve uma parceria de longa duração com um estúdio, optando por vender os direitos de filmagem de seus heróis, fosse pela falta de recursos para produzir os próprios filmes, ou por problemas financeiros.

Mas esse cenário desfavorável começou a mudar quando o Marvel Studios produziu um filme com total controle da Casa das Ideias: Homem de Ferro, em 2008, um sucesso de público e crítica. Em 2009, o grupo Marvel foi comprado pela Disney. A partir daí, com grandes orçamentos à disposição e a supervisão afiada de Kevin Feige, a Marvel finalmente tinha condições de dominar o mundo das bilheterias.

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A Warner/DC fazia seus filmes de super-heróis sem tanta pressão, porque não havia concorrência. Isso até o lançamento de Homem de Ferro. Na época, a DC não se abalou tanto porque estava encantada com o Batman de Christopher Nolan. A trilogia de Nolan rendeu muito dinheiro, reconhecimento e Oscars. Mas atrasou a criação do universo cinematográfico da DC.

A situação piorou porque confiaram, informalmente, o comando desse universo a um diretor/produtor com um ego grande e um talento pequeno. O sr. Zack Snyder prometeu muito e entregou pouquíssimo. Batman vs Superman deveria ser um filme para abalar as estruturas, mas foi um fracasso criativo e uma decepção nas bilheterias.

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A Warner entrou em pânico e mutilou seu próximo lançamento, Esquadrão Suicida, para deixá-lo mais palatável. Outro fracasso criativo. Mas depois a Warner ficou mais calma. O filme é ruim, mas fez dinheiro.

Atualmente, o comando do universo DC no cinema está nas mãos de um cara dos quadrinhos, Geoff Johns , e um executivo da Warner,  Jon Berg. A ordem agora é ajustar o rumo. Internamente, a DC sabe que errou, que precisa mudar peças importantes para que seu grande plano deslanche. A ambição é conquistar bilheterias de U$ 1 bilhão, o aval da crítica e o coração do público, assim como a Marvel.

Mas a DC tem uma vantagem que pode fazê-la superar a concorrência.

A Warner é conhecida por dar liberdade criativa a seus diretores. O estúdio já se beneficiou e se prejudicou por conta disso. Mas a política continua. O que é um sinal de confiança no potencial de seus colaboradores.

No caso dos filmes da DC, inicialmente, a estratégia não deu certo. Escolheram a pessoa errada para dar essa liberdade. Porém, o futuro pode ser promissor.

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O próximo lançamento da DC é o filme da Mulher Maravilha. Apesar da decepção com Batman vs Superman e Esquadrão Suicida, o último trailer e o fato de ser o primeiro filme de super-heróis protagonizado e dirigido por mulheres estão gerando grandes expectativas.

Em um aspecto, a DC já ganhou da Marvel. Em bem menos tempo, deu muito mais espaço para a diversidade. Lembrando que Esquadrão Suicida é um filme que tem como protagonistas um homem negro, o Pistoleiro, e uma mulher branca, Arlequina. Além de ter um elenco multiétnico, com personagens relevantes, como Amanda Waller, uma mulher negra, e El Diablo, o primeiro super-herói latino com substância no cinema.

Sem falar no já confirmado filme solo do Batman, que será dirigido e estrelado por Ben Affleck. Um cara que já provou ter ambição em seus projetos e talento para executá-los.

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Ou seja, mesmo tendo a última palavra sobre esse universo DC, a Warner ainda tem muita a ganhar bancando as ideias dos seus colaboradores. Algo ao mesmo tempo diferente e lucrativo pode surgir dessa parceria. Porque o negócio do cinema tem a ver com dinheiro, mas também tem a ver com ego.

Já com a Marvel, o caminho é mais seguro e, por isso, mais previsível. Eles aprenderam a fazer filmes bem azeitados, mas aqui a rédea é mais curta. A liberdade criativa é muito mais limitada. E isso se reflete na estética, no tom e nas possibilidades de cada filme. Há uma padronização, uma linha de montagem. Hoje em dia, sabemos que, dificilmente, um filme da Marvel vai decepcionar o público. Assim como, sabemos que, dificilmente, irá surpreendê-lo.

Claro que essa virada da DC em cima da Marvel pode não se concretizar. Contudo, esse cenário de pulo do gato, de busca pela excelência, é uma projeção a partir de informações sólidas, não é uma mera vontade minha. Depois do lançamento do filme da Mulher Maravilha, da Liga da Justiça e da aventura solo do Batman, a gente conversa de novo.

A ESPADA DE QUENAI NA AMAZON

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A Espada de Quenai é um conto de fantasia heroica, de espada e feitiçaria ou sword and soul, como queiram. Quenai dul Múni é uma guerreira solitária num mundo povoado por magos, feiticeiras, reis, imperatrizes, máquinas e seres fantásticos. Tendo em mãos sua espada mágica Grito da Lua, ela enfrenta ameaças humanas e sobrenaturais. Esta é a primeira aventura de uma série que pretende ser, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma crítica ao subgênero, inspirada em mestras e mestres como Robert E. Howard, Tanith Lee, Michael Moorcock, Charles R. Saunders e C.L. Moore.

PAGUE PARA PUBLICAR QUANDO VOCÊ FOR O CHEFE

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Apesar da crise econômica (do aumento dos custos e da diminuição das oportunidades), de gente gabaritada constatar, com números sólidos, que nosso mercado editorial para livros de FC e fantasia diminuiu nos últimos 5 anos e do fechamento ou fuga de grandes editoras, nada disso justifica ficar à mercê de editoras de fundo de quintal, que cobram caro e exigem absurdos para publicar, tomando todas as decisões editoriais. Se falta caráter já no lançamento de um edital para antologia ou nas regras para tirar seu romance da gaveta, então só espere dor de cabeça até você receber seus exemplares.

Por menor que seja, UMA EDITORA SÉRIA NÃO COBRA DO AUTOR. O investimento em um autor é uma parceria, uma via de mão dupla, em que o publisher e o editor entram com sua experiência de mercado para transformar um manuscrito em um romance com potencial artístico e/ou de vendas. A editora sabe como melhor promover, distribuir e comercializar o livro.

Mesmo confiando no trabalho de editoras sérias, a auto-publicação hoje é a maneira mais viável e realista de um escritor começar, seja no formato digital ou físico. É muito melhor se informar e procurar profissionais competentes para leitura crítica, preparação de texto, revisão, ilustração, capa, diagramação e uma gráfica com bom acabamento e preços justos. Você gastará mais ou menos grana, a depender da ambição de seu projeto. E com certeza, sua satisfação será muito maior. Você terá total controle editorial sobre sua obra.

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Claro que você terá que ralar mais para promover e vender seu livro. Mas tudo é aprendizado. Você vai acertar e errar. Quem sabe você chame atenção de uma editora séria e tenha a oportunidade de melhorar seu texto e de ampliar seu número de leitores. Isso pode acontecer. Tomara que aconteça. Mas não encare isso como o caminho natural das coisas.

Em geral, editoras publicam textos que vendem: tendências, modas, cópias de modelos do passado. Não é porque você é um puta escritor que você terá mais chance de ser publicado. Provavelmente, o escritor medíocre passará na sua frente. Mas nada disso importa na hora de escrever e publicar. O que importa mesmo é você entregar ao leitor o melhor produto possível, um texto trabalhado num formato bacana, atraente.

A auto-publicação digital veio para democratizar o acesso a todo tipo de literatura. Tirar das mãos dos gatekeepers a produção desse conteúdo. Em parte, uma demanda ignorada pelas grandes editoras. Em outra parte, uma demanda que as grandes editoras nem sabiam que existia, despertando interesse.

Fico muito feliz quando um autor independente que admiro consegue chamar atenção de uma editora séria, pequena ou grande. É um potencial reconhecido. É a chance de muito mais leitores terem contato com uma obra que, de alguma maneira, pode fazer a diferença.

AUTOCRÍTICA DE UM ROMANCE

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Alguma vez, alguém já analisou o próprio conto, novela ou romance depois de escrito, de publicado? Fazendo a comparação do que foi planejado com o resultado final? Abaixo segue minha avaliação, em tópicos, do meu primeiro romance Um Jardim de Maravilhas e Pesadelos, publicado em 2015.

É aquela coisa: você só aprende fazendo. Claro que o estudo é fundamental para aprimorar qualquer escrita. Enquanto eu (r)escrevia esse livro, aprendi muito, na prática, sobre uma série de tópicos, como furos de roteiro, ritmo, construção de cena e desenvolvimento de personagens. Aprendi o que não deve ser feito, principalmente, evitar clichês e preconceitos implícitos ou explícitos.

Godard disse uma frase de que gosto bastante: “Os problemas de um filme sempre podem ser corrigidos no filme seguinte”. Acho que isso é válido também na literatura. Evidente que ninguém nunca quer errar. Mas a verdade é que erramos mais do que acertamos. É a vida. Mas querer acertar é o segredo.

Autocrítica do romance Um Jardim de Maravilhas e Pesadelos:

– Herói mais reativo do que ativo (ponto negativo);

– heroína mais reativa do que ativa (ponto negativo);

– conflito entre heróis (ponto positivo);

– heróis falhos (ponto positivo);

– vilão complexo, ativo (ponto positivo);

– worldbuilding em função da trama, procurando evitar o infodump (ponto positivo);

– uso de macguffin (alguns podem considerar como bem utilizado, outros como algo que precisaria de maiores explicações);

– uso da arma de chehkov (satisfatoriamente utilizada, evitou o deus ex machina no clímax);

– estrutura em três atos (está bem disfarçadinho, mas existe);

– uso de reviravoltas e ganchos (utilizados de maneira orgânica, surpreendendo o leitor, mas sem enganá-lo);

– sem jornada do herói (existe uma série de passos que determinam se o protagonista percorreu a jornada como estrutura narrativa. No filme Matrix, Neo faz essa jornada de maneira clássica, seguindo cada um desses passos. Certos autores usam apenas alguns aspectos da jornada. No meu caso, a evitei completamente por achar que não se adequaria à história que eu queria contar, e também por considerá-la batida. Isso foi a coisa mais consciente que fiz ao escrever o livro. O problema de muitos autores é que eles tentam adequar sua história à jornada do herói e não o contrário).

EM BREVE

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Nos próximos dias, será lançado na Amazon um conto de fantasia heroica, de espada e feitiçaria ou sword and soul, como queiram. Quenai dul Muni é uma guerreira solitária num mundo povoado por magos, feiticeiras, reis, imperatrizes, máquinas e seres fantásticos. Tendo em mãos sua espada mágica Grito da Lua, ela enfrenta ameaças humanas e sobrenaturais. Esta é a primeira aventura de uma série que pretende ser, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma crítica ao subgênero, inspirada em mestras e mestres como Robert E. Howard, Tanith Lee, Michael Moorcock, Charles R. Saunders e C.L. Moore.

Leiam o início do conto: 

Podia ser a fome. O frio. Os primeiros raios de sol. A chuva. A vontade de urinar. Geralmente, uma perturbação dessas isolada, ou uma combinação de duas, três ou todas juntas. Mas também podia ser uma perturbação mais ameaçadora, fatal. Uma sorrateira cobra-colar, que se aproximaria enquanto estivesse deitada a céu aberto, e se envolveria em seu pescoço, tão ágil quanto o saque de uma espada, para sufocá-la com a pressão do corpo delgado e as escamas abertas, pontudas, venenosas. Ou um bando de hienas-amarelas, que aguardariam com paciência até que pegasse no mais profundo dos sonos, então avançariam, entre as muitas pedras que cobriam a planície de Jara, para atacar, despedaçá-la e devorar sua carne.

Porém, havia uma perturbação ainda mais fatal. De outra natureza, ao mesmo tempo, tão próxima e tão distante de Quenai.

Nessa hora, Grito da Lua não poderia ajudar, além de oferecer a lâmina eternamente afiada. Quenai teria de sobreviver sozinha.

Ela ouviu algo. Abriu os olhos. Sentia fome, um pouco de sede. Ao ar livre, nunca dormia completamente saciada, satisfeita. O vazio no estômago não permitia que adormecesse de verdade, que sonhasse. O descanso era uma imitação de sono. Precisava estar pronta para qualquer ameaça.

Ficou alerta, mas não se mexeu. Continuou deitada de lado, sobre a manta espessa de algodão, coberta por sua pele de cabra. A manhã ainda estava fria e cinzenta.

Apertou os dentes e os lábios grossos. Começar o dia dessa maneira, agitado, a deixava possessa.

Ao redor, a vegetação era baixa, misturando tons verdes, amarelos e marrons, com poucas árvores finas. O que tornava aquele lugar único eram as formações de pedras escuras de vários tamanhos, espalhadas em todo o campo aberto. Pareciam jarros enormes. Diziam as lendas que, milênios antes, o extinto povo jara dominava aquelas terras. E que as formações de pedra eram crematórios, onde os mortos se tornavam pó, em rituais fúnebres em louvor ao deus Cra, o Lanceiro da Morte.

Quenai podia ver com nitidez, na altura do chão, mas ainda assim sua visão estava limitada. No início da noite anterior, ela sabia que tinha de parar a viagem. Aliás, viagem que nem devia ter começado. Já era tarde quando partira. Onde estava com a cabeça para se meter numa situação de perigo tão evitável? A falta de dinheiro era a resposta óbvia. Contudo, a melancolia que a dominou, em seus últimos dias numa cidade grande, com certeza, tinha contribuído para afetar-lhe o raciocínio. Não era nada inteligente ficar vagando por aquela planície, à noite. Então ela procurou um local estratégico para descansar sua espada, comer um pouco e dormir. Queria se proteger das ameaças potenciais. Tinha de fazer escolhas. Preferiu repousar num trecho onde os jarros estavam mais distantes uns dos outros. Isso evitaria uma aproximação surpresa de hienas-amarelas. Num trecho onde os jarros estivessem mais próximos, Quenai melhor camuflada aos olhos de viajantes, as feras de pelos longos e eriçados nas costas podiam, pelo alto das pedras, cair sobre seu corpo. Em campo aberto, era mais fácil percebê-las. Para afugentá-las, usaria um apito de madeira com partes móveis. A peça gerava sons desagradáveis para vários tipos de animais e imitações do urro de predadores. Caso as feras insistissem em cercá-la, ela faria fogo e um círculo de chamas à sua volta. E em último caso, o enfretamento. Mas, nas poucas vezes que estivera ali, à noite, o apito bastou. Contra o avanço de cobras-colar, contava apenas com a agilidade de sua adaga. Em relação à gente, a coisa era mais imprevisível.

Com os ouvidos atentos e o nariz apurado, Quenai percebeu uma inquietação no ar e nenhum fedor. Entre grilos-de-veludo próximos e corvos-azuis ao longe, não havia a presença de cavalos nem de cães ou lobos de caça. Isso foi bem fácil de deduzir. Mais difícil foi estabelecer a posição de quem a espreitava.

Não era um estranho solitário. Havia mais alguém. Quantos seriam ao todo, três, quatro desgraçados?

Por que não lançaram uma flecha, uma machadinha ou uma adaga, perfurando a pele de cabra, atingindo-lhe a perna ou o torso? Estariam apenas esperando a reação dela? Ou não teriam tais armas, guardando as espadas para o ataque a curta distância? Ou queriam preservá-la para o estupro, a servidão, para ser vendida como escrava nas cidades da Costa de Marfus? Ou eram apenas burros, incompetentes, covardes?

Essa incerteza deixava Quenai inquieta. Mas ela não podia se mexer. Ainda não.

Estava pronta para a luta. Completamente vestida, botas calçadas. O cinturão com bolsos firme. A adaga de lâmina curva dentro da bainha de couro liso, à disposição, no quadril direito. E Grito da Lua estava bem à sua frente, deitada com ela, guardada em sua bainha de couro trabalhado.

O silêncio da espada era a certeza de que se tratava de uma ameaça humana. Se a ameaça fosse além de sua compreensão, mística de alguma forma, Grito da Lua se manifestaria.

Agora Quenai contava apenas com suas habilidades de combate. Mas fazia quase duas semanas que não lutava com ninguém. Nem mesmo para treinamento. O serviço de escolta da filha de um comerciante da cidade de Carná, uma noiva prometida a outro comerciante da cidade vizinha de Arbaque, não fora exigente. E o bom pagamento a deixou um tanto mole, com muita comida para estufar a barriga, muitas horas de sono numa cama aconchegante de estalagem, e sexo com um ou outro habitante daquela região do Império de Boro ou algum forasteiro, que aceitaram seus convites para beber; e ela sempre tomando uma dose de poção seca para não engravidar. Quando o dinheiro acabou, quando o ânimo acabou, achou melhor voltar para a estrada.

Não tinha nenhuma esperança de que aqueles à sua espera não passassem de viajantes perdidos, desorientados, talvez feridos ou bêbados. Gente assim não costumava se aproximar, na surdina, de estranhos dormindo ao ar livre. Iriam para o lado oposto, para longe, ou gritariam por ajuda. Ao contrário de bandidos, arruaceiros, soldados, guerreiros e mercenários, laia pior do que qualquer bando de hienas-amarelas estudando sua presa.

“Ei, você! Não temos o dia todo!”, disse uma voz de mulher, em bor, a língua comum.

REPETINDO: NÃO É STAR TREK

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Eu sou fã de Star Trek. Não vi todas as séries nem todos os filmes. Mas vi bastante coisa, principalmente, ligada à tripulação original e a da Nova Geração. E continuo querendo ver mais, saber mais. Por isso, digo que o chamado Abramsverse não é Star Trek. E esse terceiro filme deixa isso bem claro.

Visualmente, Sem Fronteiras é belíssimo. Neste aspecto, é como O Despertar da Força. Um conceito do passado com um nível de produção nunca visto antes. A grande diferença é que O Despertar é Star Wars, uma fantasia espacial, misturando filmes de samurais, de guerra e faroeste. Mas Sem Fronteiras não é Star Trek, pois a aventura ao desconhecido, a exploração dos limites da ética e da ciência, são esmagadas pela correria e pelas explosões. E, acima de tudo, pela nada convincente interação entre os personagens.

Gasta-se mais tempo com a ação frenética e um humor cheio de piadas e gags visuais batidas do que em estabelecer conexões sólidas entre a tripulação. Há tentativas, mas elas fracassam. Não são melhor desenvolvidas, ficam pelo caminho. Por exemplo, a relação entre Kirk e Spock, a razão de ser desse universo. Existe tanta coisa acontecendo que os dois mal se falam. Por outro lado, Spock e McCoy ficam juntos quase o filme inteiro, mas o que ganhamos é um Spock depressivo e um McCoy gaiato. Onde está a ironia impassível do vulcano? E a rabugice do doutor?

O filme em si, como entretenimento, não se sustenta. Empolga nos trinta minutos iniciais, com personagens cheios de dúvidas, de dilemas e uma incrível sequência de ação. No segundo ato, ficamos entediados com cenas mal construídas e diálogos ruins. O melhor é reservado para o núcleo do capitão Kirk, deixando migalhas para outros membros da tripulação, como Uhura e Sulu. E o clímax é grandioso, mas sem emoção. E isso se deve muito à falta de importância do antagonista. A motivação dele é preguiçosa. Um total desperdício do talento de Idris Elba.

Assim como parei de assistir aos filmes de X-Men depois de Dias de um Futuro Esquecido, também vou fazer o mesmo em relação à Star Trek. Esse Abramsverse para mim já deu. Agora o jeito é apostar as fichas na série de TV Star Trek: Discovery. Tomara que não seja um blefe.

Star Trek, Sem Fronteiras (Star Trek Beyond), de Justin Lin, 122 min., Paramount Pictures e outros.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

SUTIL E BRUTAL

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Este romance é um triunfo, tanto como peça de ficção quanto de reflexão. Butler flerta com a polêmica ao tratar da escravidão nos EUA de maneira complexa, sem ceder a maniqueísmos. Ganha a autora, por elaborar uma narrativa tão madura. Ganha o leitor, ao se deparar com um texto cheio de nuances e ideias desafiadoras.

Acompanhamos a história de Dana, uma jovem escritora negra, na Los Angeles de 1976 (o romance foi publicado em 1979). Recém-casada, ao se mudar para a nova casa com o marido, Kevin, um escritor branco, inexplicavelmente, Dana é transportada no tempo e no espaço para a zona rural de Maryland, em 1815, antes da Guerra Civil Americana.

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Logo ela entende que ali moram seus ancestrais. Dana é descendente de uma mulher negra, liberta, Hagar, fruto da relação entre um fazendeiro branco, Rufus, e uma escrava negra, Alice. Mas Hagar ainda não nasceu. E Rufus e Alice são apenas crianças.

Em sua primeira viagem no tempo, Dana salva Rufus de morrer afogado num rio. Depois de salvá-lo, Dana é quase morta pelo pai do garoto. O medo de morrer faz com que Dana volte para 1976, para os braços do marido. Passaram-se alguns minutos desde sua partida.

Então, ao longo do romance, Dana sempre retornará ao passado quando a vida de Rufus for ameaçada. Assim como ela retornará ao seu presente quando acontecer o mesmo com a sua. Enquanto que Dana quase não muda fisicamente em suas viagens, a cada salto no tempo, ela vê Rufus crescer, torna-se homem, alguém mais e mais violento e manipulador.

Dana não sabe como, mas ela finalmente entende por que está ali. Ela precisa manter Rufus vivo até que ele e Alice tenham Hagar, sua ancestral direta, em nome de sua própria existência; algo no estilo De Volta para o Futuro. Enquanto isso, Dana vivencia toda a brutalidade da escravidão.

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Sua narração em primeira pessoa emula os relatos de ex-escravos que se tornaram marcantes na literatura americana pós-Abolição. O recurso da viagem no tempo permite um contraste poderoso. A voz de uma mulher negra contemporânea contando sua experiência como escrava. É um discurso articulado, cheio de insights sobre uma variedade de temas (racismo, poder, sexualidade, dominação, escolha…), sempre fazendo conexão com o que acontece com a mulher negra no passado e no presente.

O texto é fluido, direto e imersivo. Butler soube muito bem equilibrar pesquisa e invenção. A voz de Dana nos passa toda a verossimilhança daqueles EUA do século 19, de como aquela sociedade funcionava, com seu cheiros, gostos e costumes. Principalmente, tomamos conhecimento da mentalidade de posse sobre a população negra.

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O elenco de personagens mostra pessoas negras e brancas de maneira complexa, no contexto brutal da escravidão. A relação entre mestres e escravos não é feita entre monstros e pessoas subservientes. E sim entre gente branca comum, que detém o poder sobre os corpos de suas propriedades, apoiada por toda uma sociedade escravocrata, e gente negra aviltada, que detém apenas o poder de cometer suicídio ou tentar uma difícil fuga para a liberdade, sem nenhuma estrutura com que possa contar.

Kindred é um romance importante por expor, de maneira nada convencional, a desumanidade da escravidão e por reafirmar como esse mal tem tudo a ver com o racismo e as tensões sociais dos últimos duzentos anos nos EUA (mas só por lá?).

Kindred, de Octavia E. Butler, 264 págs., Beacon Press.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

QUANDO O MELHOR AMIGO NÃO BRANCO VIRA O PROTAGONISTA

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Aziz Ansari foi inteligente em criar e estrelar uma série cômica que não fosse estúpida, como The Big Bang Theory, nem escrota, como South Park. Ele calibrou os riscos da empreitada, entregando uma produção diferente, mas que não deixasse de ser fofa, de criar empatia.

Depois de assistir ao primeiro episódio, foi inevitável a lembrança dos filmes de Woody Allen.  Porque o humor de Master of None é feito por meio de conversas banais e relacionamentos do cotidiano.

Mas o que Ansari traz de novo é a visão de um protagonista que não é branco. É muito interessante ver um cara, descendente de indianos, tentando viver uma vida normal. Claro que temas importantes como racismo, misoginia, feminismo e estereótipos culturais estão presentes na série, em destaque. Porém esses temas são trabalhados de maneira orgânica no roteiro, sem parecer forçado e sem perder sua urgência.

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Dev, o personagem de Ansari, é um cara legal, mas está longe de ser perfeito. Ao mesmo tempo em que tem de lidar com problemas familiares, de relacionamento e na carreira de ator, ele também pisa na bola, é injusto com os pais, a namorada e no trabalho.

Parte do sucesso do show se deve ao certo na escalação dos atores.  Entre amigos, parentes e gente muito conhecida, como a atriz Claire Danes, Ansari conseguiu uma ótima combinação entre atores profissionais e não atores, em sua maioria, negros, asiáticos e indianos. Uma total inversão no casting habitual de séries e filmes americanos.

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São dez episódios de trinta minutos muito bem dirigidos. É uma produção de baixo orçamento caprichada em sua direção de arte, fotografia e montagem.  A série tem uma pegada pop, com uma pitada hipster, cheia de ótimas músicas.

Master of None é uma comédia leve. Alguns diriam leve demais para um mundo em explosão, considerando a intolerância a minorias e culturas não brancas. Mas a série não é desonesta. Entrega o que propõe, sem ser esquecer o contexto diverso e complicado em que vivemos.

Master of None, de Aziz Ansari e Alan Yang, 10 episódios de 30min. (disponível no Netflix), Universal Television e outros.

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE.

PITACOS INCRÍVEIS

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O site Homo Literatus está com um projeto muito bacana: o Pitacos, em que o editor Vilto Reis faz a análise de contos enviados pelo público. Para minha felicidade, meu conto “Uma noite qualquer” foi escolhido.

De fato, é a voz de um editor falando. Vilto diz com total honestidade, com conhecimento de causa, o que há de problemático no conto. Ao mesmo tempo, pontua suas qualidades. Ou seja, critica sem deixar o autor pra baixo. Na verdade, me estimulou a reescrever a história, a melhorar como escritor.

Pode-se ler o conto completo em PDF na descrição do canal do Homo Literatus no Youtube, ou on line aqui mesmo no blog.