BATMAN VS SUPERMAN: O SONHO ACABOU?
A Warner/DC toma uma posição arriscada por dar tanto peso, tanta seriedade, a filmes que deveriam ser apenas diversão? Eles tentam uma abordagem alternativa à Disney/Marvel. O público precisa disso. E a própria Warner não tem muita escolha, ela deve se diferenciar da concorrência, criar um estilo próprio. Isso deu bastante certo com a trilogia do Batman de Nolan.
Batman vs Superman era a promessa do estúdio de começar de fato o universo cinematográfico da DC. Homem de Aço praticamente não conta, servindo como um tipo de prólogo. A expectativa para o embate entre os dois maiores ícones da DC era grande por parte dos fãs e da indústria. Um sonho nerd finalmente seria realizado, com todo o dinheiro e talento que Hollywood podia dispor. Assim como o novo filme de Star Wars, Batman vs Superman não podia falhar, não podia frustrar tanta gente.
A Warner é conhecida por acreditar na visão dos diretores com quem trabalha. O caso mais recente de sucesso dessa parceria foi o apoio a George Miller em seu Mad Max – Estrada da Fúria. Um projeto caro e problemático, mas que, no final, resultou no filme de ação mais incrível dos últimos anos, uma bilheteria decente e 6 Oscars.
Batman vs Superman também foi um projeto problemático. Porém isso se reflete no que assistimos na tela. A edição tem um ritmo irregular, com transições abruptas e mudanças de contextos irritantes, jogando o espectador num redemoinho de situações sem o devido desenvolvimento. Além de momentos arrastados, como no Planeta Diário e depois do clímax. A sequência no deserto é belíssima. Mas por que ela está no filme? É bizarro ver como o roteiro de um filme tão importante pode ser tão preguiçoso. O exemplo mais evidente é a preparação para a luta entre o Vigilante e o Alienígena. As motivações de Batman são sólidas na visão de mundo dele, mesmo que numa perspectiva distorcida e raivosa. Mas as motivações do Superman são tão tênues que não justificam a briga. Mas ela acontece. E termina da maneira mais patética possível, por causa de um detalhe sentimental que muda tudo, avançando o filme para o terceiro ato às pressas. Devemos lembrar a participação fundamental de Lex Luthor nos bastidores da treta. Seria tão fácil assim Luthor e o Superman manipularem Batman, o estrategista nato? Não vou falar dos furos do roteiro. Até grandes filmes de super-heróis, como O Cavaleiro das Trevas, têm problemas de continuidade, coincidências que não fazem sentido.
Os efeitos especiais são muito competentes, descontando os excessos, em cenas com o batmóvel e, claro, o Apocalipse genérico. Deviam ter chamado Guillermo del Toro apenas para criar o monstro. A trilha sonora mistura uma repetição do que já ouvimos em Homem de Aço com novos temas, sendo o mais marcante o da Mulher Maravilha.
O Batman/Bruce Wayne de Ben Afleck é a melhor coisa do filme, tanto o visual como a personalidade. Melhor Batman do cinema! Raivoso, focado e brutal, até demais, num estilo Justiceiro, matando criminosos sem piedade. A Mulher Maravilha de Gal Gadot marca presença. É o único fan service que funciona. Ela traz mais força e graça ao filme. Mas do ponto de vista narrativo, sua presença é injustificável. O Superman de Henry Cavill continua uma decepção. O melhor Superman dos quadrinhos é uma inspiração moral. A Marvel conseguiu muito bem transformar o Capitão América num personagem relevante no cinema, uma referência. A mesma coisa devia ser feita na Warner/DC. Acho Frank Miller incrível, apesar do fascismo do cara. Não gosto do Superman dele, como um instrumento político do governo americano. No filme, fizeram pior, transformando o personagem num instrumento de destruição que não sabe se conter. O Lex Luthor de Jesse Eisenberg tinha a oportunidade de fazer algo diferente, inédito. Aqui caberia bem uma versão mais sombria e controlada. Luthor começa bem, passando algum medo em sua loucura megalomaníaca, mas isso dura pouco. Depois acompanhamos uma variação cartunesca de filmes anteriores. À exceção da senadora de Holly Hunter e o Alfred de Jeremy Irons, o elenco de apoio não contribuiu para o envolvimento emocional do espectador.
A Warner tem um pepino para descascar e se chama Zack Snyder. Ele não é o pior diretor do mundo. Mas agora ficou bem claro que ele não é a pessoa certa para ter um papel tão central na criação do universo cinematográfico da DC. Ele está escalado para comandar A Liga da Justiça 1 e 2. Diante de tamanha responsabilidade, ele não mostrou a evolução necessária para estar à frente de um projeto tão ambicioso. Joss Whedon mostrou evolução como diretor no primeiro Vingadores, os irmãos Russo em Capitão América – Soldado Invernal e George Miller, em Estrada da Fúria, dispensa comentários. Em termos de coesão e ritmo, Batman vs Superman é inferior a outros filmes de Snyder. Ele sentiu o peso da camisa. E já tinha mostrado isso em Homem de Aço. A Warner apostou nele e perdeu. Mas a Warner tem sua parcela de culpa. Ela atropelou as coisas, por estar muito atrasada e preocupada em estabelecer a base de personagens do novo universo. Os executivos do estúdio pensam que não há mais tempo para sutilezas, esperar que os filmes solo dos outros heróis fiquem prontos e estreiem.
Batman vs Superman é um filme com alguns bons momentos, que empolgam e comovem. As surpresas são pouquíssimas, graças ao marketing desesperado, que mostrou praticamente tudo antes da estreia. Eu não fiquei irritado, como ao assistir Vingadores – Era de Ultron, e sim decepcionado por ter tido um sonho que não consigo lembrar quase nada.
Batman vs Superman – A Origem da Justiça (Batman v Superman – Dawn of Justice, 2016), de Zack Snyder, 151 min. DC Entertainment e outros
AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE