UHURA (POEMA FANTÁSTICO 4)
Uhura
Olorum encarregou Oxalá
de fazer o mundo
um espetáculo tão estranho
que qualquer um
que olhasse, pensaria
sequenciadores
samplers
sintetizadores
componentes de um código
uma tecnologia secreta
para modelar o ser humano
incorporar
o não narrado
os buracos
orixá tentou fazer o homem
de ar
como ele
um fragmento narrativo,
o homem logo de desvaneceu
a empreitada de criar
uma distorção significativa do presente
a maior empresa de tecnologia
do mundo
que controla boa parte
de nosso tráfego na web
absorve empresas de robótica
e inteligência artificial
especula-se
por que
o orixá tentou
vários caminhos
fez de fogo
o homem se consumiu
tentou azeite
água
até vinho de palma
uma nova geração
de sistemas autônomos
o marketing indireto
de produzir realidades
informações circulam
como uma commodity
foi então
que Nanã Burucu veio
apontou com seu ibiri centro e arma –
Para o fundo lago onde morava
e de lá retirou
todos os restos, os pedaços
que não foram apagados
uma memória coletiva
e individual
que nunca irá compor
um discurso
Oxalá modelou o homem do barro,
e com o sopro de Olorum,
ele caminhou
descendente direto
de alienígenas sequestrados
levado de uma cultura para outra
nessa nova sociedade híbrida
enquanto isso, no Japão
as pessoas já fazem
rituais funerários budistas
para seu cães-robôs
que podem fazer qualquer coisa
de trabalhar em depósitos
a cuidar de idosas
o mundo caminha à passos largos
mas chega o dia
que seu corpo precisa voltar
Nanã Burucu
espera os descendentes
despossuídos
abduzidos para o novo mundo
ela deu a matéria no começo
mas quer de volta
no fim
tudo o que é seu
a lama, frágeis arquivos
a chave
para o futuro na diáspora
(Stephanie Borges)