O HOMEM INVISÍVEL – TERROR DA VIDA REAL

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O que os homens podem aprender com o filme O homem invisível? Porque o problema do machismo, da masculinidade tóxica e da relação abusiva é nosso, dos homens. Sem a gente na jogada, as mulheres deixariam de sofrer a ameaça física e psicológica de namorados, maridos, chefes, colegas de escola, de trabalho ou de qualquer cara que passasse na rua, tendo seus comportamentos nocivos normalizados por um sistema social que inferioriza as mulheres. Pior, que as culpa por serem independentes, por se vestirem do que jeito que bem entender, por escolherem seus parceiros e parceiras, chegando ao ponto de criminalizar e tirar delas as decisões sobre o próprio corpo. Uma mulher sai de casa pela manhã para estudar, trabalhar ou ir na esquina comprar pão e não sabe se retornará sem sofrer um assédio moral, sexual, uma violência física ou com a vida intacta.

A grande sacada da nova versão de O homem invisível foi fazer um suspense de primeira, um entretenimento muito competente, que, ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre um tema tão atual.

O filme preserva alguns elementos do romance clássico de H.G. Wells, publicado em 1897, como a arrogância do cientista e suas pesquisas no campo da óptica. Assim como a ideia do terror social provocado pela condição do homem invisível. De resto, a trama do filme é uma criação do diretor e roteirista Leigh Whannell.

A situação do relacionamento abusivo é muito bem trabalhada, na medida em que o tema se insere nos desdobramentos da história de forma orgânica, casando acertadamente a maneira de contar a história e o que ela pretende discutir, seja pela fala dos personagens, seja pelas cenas de tensão e violência.

O homem invisível conta com a produção da Blumhouse (que também produziu o filme Corra! que fala de racismo de uma maneira inovadora) e com o talento da atriz Elisabeth Moss (a protagonista da série The handmaid´s tale), que carrega o filme nas costas, mostrando toda a fragilidade de uma mulher traumatizada pela violência doméstica, mas também revelando força e determinação quando necessário.

Destaque também para a montagem precisa, a fotografia que provoca aflição com tomadas abertas e espaços vazios, a direção de arte frequentemente sugestionando a presença do homem invisível, o design de som que mexe com as tensões do espectador e a trilha sonora ora sutil, ora potente, empregada nos momentos certos. Há problemas? Claro, furos de roteiro, falta de desenvolvimento de personagens, atuações medianas e, principalmente, o clímax convencional, em que o eficiente suspense dá lugar a um tipo de ação, de correria, já vista em outras produções.

O fascinante em O homem invisível é utilizarem os recursos do terror psicológico para criar uma alegoria tão contundente, tão incômoda. O homem invisível transforma a vida da mulher que ele ama num inferno, no que atualmente chamamos de gaslighting, que é uma maneira do abusador manipular a percepção da realidade da vítima ao ponto dela duvidar da própria sanidade, levando outras pessoas a fazer o mesmo.

O terror do filme é de dar nos nervos por ser tão real.

O homem invisível (The invisible man, 2020), de Leigh Whannell, 124 min., Blumhouse, Universal e outros

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE