EU SOU ATEU
Recentemente saiu uma matéria sobre a dificuldade de aceitação dos ateus no Brasil por serem minoria em um país tão religioso. Primeiro, devo dizer que sou ateu. Segundo, que isso pouco afeta meu dia a dia. E terceiro, que não gostei da matéria. Achei-a muito genérica. Claro que ateus em cidades menores têm suas vidas mais afetadas por suas convicções. No interior, geralmente, a vida social gira em torno das igrejas. Mas a matéria vacila ao não ouvir gente das periferias, que sofre a mesma pressão religiosa. Colocaram entrevistados de classe média como os mais oprimidos. E ainda citaram o escritor Richard Dawkins como referência, um ateu fundamentalista, que se acha o dono da verdade.
Não acredito que religião seja o ópio do povo. É uma questão complexa, parte da cultura humana. Se todas as religiões fossem apagadas da cabeça das pessoas hoje, amanhã outras surgiriam. Envolve uma série de questões da relação das pessoas consigo mesmas, com os outros, a natureza, o planeta, o Universo. Religiões são interpretações dos mistérios da existência e representações culturais da vida em sociedade. Neste caso, meu ateísmo acaba sendo mais uma interpretação, a partir do que procurei investigar e do que me foi apresentado ao longo da vida.
Agora fico irado com qualquer fundamentalista e aproveitador que explora a fé das pessoas, gera violência e interfere na vida pública para atingir direitos. O estado deve ser laico e qualquer um que diga o contrário vai comprar briga comigo. Não deve existir no currículo da rede pública aula de religião e nenhuma outra prática que favoreça essa ou aquela crença. Para isso, existem escolas específicas e os ambientes de convívio da família do aluno. Devem existir aulas ou oportunidades na escola pública em que todas as religiões sejam debatidas e todos os pontos de vista apresentados. As mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens de tomar decisões sobre sua mente e seu corpo e nenhuma religião pode interferir nisso.
Fico triste, enojado e revoltado com a intolerância geral, que é histórica e não uma invenção recente. Agora dizer que já fui discriminado porque sou ateu seria mentir. Como disse a escritora e editora Clara Madrigano, tente ser umbandista no Brasil para ver o que é discriminação.