GRITO DA LUA, FANTASIA COM UM TOQUE DE NORDESTE

Minha noveleta Grito da Lua, publicada pela editora Corvus, é uma mistura de homenagem e subversão da Espada e Feitiçaria, um subgênero da fantasia mais focado nos personagens.

No mágico e brutal Mundo Conhecido, as Terras Devastadas são uma região cheia de ladrões, mercenários, contrabandistas e outros tipos de criminosos. No bar de uma vila esquecida por todos, a feiticeira Naia e a guerreira Belinda se metem numa enrascada com o bando do perigoso Bentus.

Para espanto geral, uma mulher decide ajudá-las. Ela saca uma espada com a lâmina tomada por chamas verdes. A guerreira se chama Quenai, e a espada, Grito da Lua. Ao seu lado está Jaab, um jovem tão belo quanto mortal.

Quem vai viver? Quem vai morrer?

Grito da Lua é uma noveleta de espada e feitiçaria com um toque de Nordeste.

ESTOU PENSANDO EM ACABAR COM ESSE FILME

O filme Estou pensando em acabar com tudo se tornou um queridinho da crítica. Charlie Kaufman é um roteirista brilhante e um diretor talentoso. Seus roteiros dos filmes Quero ser John Malkovich, Adaptação e Brilho eterno de uma mente sem lembranças são inovadores. A animação Anomalisa é uma pungente meditação sobre a condição humana. Mas seu último filme como diretor e roteirista deixa a desejar.

É a adaptação do romance de mesmo nome. O livro é um filme thriller envolvente que derrapa feio no final por trazer uma grande revelação que causa surpresa, mas não faz muito sentido com tudo o que veio antes. No filme, mesmo para quem não leu o livro, fica claro, desde o início, do que se trata. Kaufman aposta no surrealismo e no nonsense para que o espectador acompanhe a jornada emocional dos personagens.

Há bons momentos de interação entre eles e soluções visuais instigantes que materializam ideias e sentimentos. Mas, quando o filme não funciona, torna-se pretensioso e repetitivo. O elenco está muito bem, mas irrita ou nos deixa entediados nos excessos do roteiro. A duração de mais de duas horas não ajuda em nada.

O valor de produção está lá. Bela fotografia, montagem eficiente e a direção de arte mostra toda a bizarrice que se enconde num ambiente de aparente normalidade.

Estou pensando em acabar com tudo é praticamente obrigatório para os fãs de Charlie Kaufman. Para o resto da humanidade, a conferida é uma opção.

CICATRIZES, MEU NOVO LIVRO DE CONTOS

Em Cicatrizes, o monstro é o ser humano. São cinco histórias do dia a dia que se transformam em momentos de tensão. O terror se esconde nas sombras da normalidade. Um jovem curte um belo dia na praia, mas o acaso traz à tona lembranças brutais. O segurança de uma boate passa uma madrugada perturbadora. Um poeta se abala ao observar acontecimentos na vizinhança. Um homem tenta, a todo custo, terminar de ler um romance policial. Uma advogada testa os limites de sua sanidade numa situação de vida ou morte. O leitor descobrirá que, neste livro, a linha que separa vítimas e algozes é mais tênue do que parece.

A MALANDRAGEM COMO SOBREVIVÊNCIA

1 alô amigo

Como mostra o livro O Imperialismo Sedutor, de Antônio Pedro Tota, durante a Segunda Guerra Mundial, houve esforços dos EUA para conquistar corações e mentes dos povos e, principalmente, dos governos da América do Sul. Em especial, do Brasil, por sua posição geográfica estratégica no continente e pelos recursos naturais importantíssimos para a indústria americana, como a borracha amazônica. Walt Disney fez sua parte, tentando aproximar norte-americanos e sul-americanos pela valorização das culturas dos países latinos mais importantes para os gringos. O média-metragem Alô, Amigos (1942) e o longa Você Já Foi à Bahia? (1944) fazem passeios por alguns destes países, mostrando costumes, paisagens, floras, faunas, comidas, danças e cantos, tudo de maneira leve, exuberante e bem humorada. Há belíssimas sequências, mesclando animação e música, no que a Disney sabe fazer de melhor. Mas nenhum dos dois filmes são marcantes. No geral, trazem histórias enfadonhas, datadas e cheias de estereótipos. Os melhores segmentos, em cada filme, são realmente os do Brasil. É inegável que a estrela de ambos é Zé Carioca, ou Joe Carioca. São segmentos que não fogem ao exotismo, mas que, no fundo, mostram o que é ser brasileiro, particularmente, carioca e baiano. Afinal, o estereótipo é uma maneira de distorcer a realidade. Nesses filmes, não se revelam a pobreza do Brasil, a repressão política de Getúlio Vargas, os interesses econômicos dos americanos. Nem a capoeira, os terreiros, as navalhas. Aqui baianas e malandros são todos brancos.

Temos então o conto Alô, Amigo! O Encontro de Zé Pelintra com Walt Disney, o primeiro da série Nordeste Alternativo, do autor baiano César Miranda. Estamos no Rio de Janeiro da década de 1920, Walt Disney está no Brasil em busca de inspiração. Ele acaba conhecendo Zé Pelintra, com seu chapéu de malandro e terno branco impecável, uma entidade das mais difundidas nas religiões afro-brasileiras, especialmente na umbanda. Zé Pelintra convida Val para conhecer o verdadeiro Rio de Janeiro, o Rio além dos pontos turísticos tradicionais. É um conto divertido, mas nenhum pouco ingênuo. Mostra a malandragem como uma questão de sobrevivência. O texto é muito maduro, no ritmo e na sintaxe, no que parece ser a estreia do autor. A pesquisa da época é inserida de maneira sutil, sempre a serviço da trama. No final da leitura, o saldo que fica é de um gosto na boca de Jorge Amado 2.0. Um gosto bom. O Jorge Amado da consciência social e da valorização da cultura popular. Jorge Amado em suas qualidades e contradições. O autor César Miranda ganhou mais um fã de seu trabalho.

Olá, amigo! O encontro de Zé Pelintra com Walt Disney (Nordeste Alternativo livro 1), de César Miranda, 36 págs., independente

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

MINHA PÁGINA NA AMAZON

autor amazon

Finalmente criei minha página na Amazon, com todos os meus livros disponíveis por lá. Meu nome é comum pra burro. Então encontrar homônimos faz parte da minha vida. Pior é que tem outros escritores chamados Ricardo Santos pela internet e na Amazon. Isso às vezes gera confusões. Já me atribuíram livros que não escrevi. Há muitos anos até pensei em criar um pseudônimo. Mas acabei desistindo. Meu ego não é assim tão grande. Para acessar minha página clique na imagem.

O NEGRO COMO NERD NO BLACK BAHIA

1 BLACk

Era para ser um evento presencial no teatro Eva Hertz, na livraria Cultura do Salvador Shopping, no dia 15 de maio, dentro das atividades do mês geek. Mas a pandemia virou o mundo de cabeça pra baixo. A ideia era criar um evento para discutir sobre negritude e nerdice, sobre o artista negro como produtor de conteúdo nerd, geek e pop. Mesmo em Salvador, uma cidade com 80% da população negra, os espaços nerds ainda são muito de classe média, ou seja, majoritariamente ocupados por público e artistas brancos. Porque é a diversidade que torna qualquer coisa mais vibrante, com troca de experiências e novas ideias. Tem melhorado? Sim. Mas melhorado quanto? As oportunidades e os incentivos são suficientes para os artistas negros, no caso? A mentalidade dos gestores de cultura e dos empresários do setor está mudando mesmo? As pessoas em geral querem consumir narrativas negras? O nerd negro está tendo acesso à produção de artistas negros? É para responder a essas e outras perguntas que vai rolar a live Black Bahia, cultura nerd, tecnologia e arte. É uma parceria com a booktuber mais retada da Bahia, Lorena Ribeiro, que vai acontecer no seu canal Passos entre Linhas , com mediação minha e dela, no dia 30/05, sábado, às 15h. O evento também é uma iniciativa da escritora Mariana Madelinn. Conheçam nossos convidados abaixo. Não percam!

1 mariana

Mariana Madelinn nasceu no inverno de 1994, em Salvador. Uma bacharel em Direito que não consegue imaginar uma realidade sem que esteja escrevendo. Desde 2009 tem um blog lírico intitulado Cantar à Vida, no qual posta poesias e prosas poéticas. Além disso, já publicou dois livros de realismo fantástico na Amazon: A Trilha (2018) e As Inverdades Nunca Ditas (2019). Participou da antologia Manifesto Poético (editora Resistência, 2019) e é uma das autoras convidadas da antologia Farras Fantásticas, em valorização da literatura fantástica nordestina, pela editora Corvus.

1 marcelo

Marcelo Lima é autor de quadrinhos e de audiovisual há 10 anos. Indicado duas vezes ao prêmio HQ Mix, escreveu a série animada Auts (PlayKids/TV Cultura/TVE Bahia) e co-criou as séries Pequenos Narradores (TV Aratu) e Galera da Praia, parceria com o Projeto Tamar. Venceu o Prêmio Literário João Ubaldo Ribeiro – Prefeitura de Salvador (2017) pela adaptação para HQ do romance O Bicho que Chegou a Feira, de Muniz Sodré. Também foi roteirista das HQs Lucas da Vila de Sant’Anna da Feira (com Marcos Franco, 2010) e O Quarto ao Lado (2016). É pesquisador de animação, transmídia e ficção seriada na UFBA.

1 bells

Bells Barbosa é black feminista e caprica obcecada. Nerd, fanfiqueira, otaku e shipper. Problematizadora na vida, colunista e podcaster no site Maratona de Sofá.

2 shon

Anderson Shon é escritor, professor, poeta, nerd e super-herói nas horas vagas. Autor dos livros Um Poeta Crônico (2013) e Outro Poeta Crônico (2019), ele não se contenta com a ideia da escrita única e passeia pelos mais diversos tipos de literatura possíveis. Tem o site andersonshon.com, no qual fala sobre representatividade e nerdice na coluna Black Nerd. Transforma músicas em contos na coluna Cantando o Conto. Expõe seus pensamentos peculiares na coluna PenSHONmentos. E traduz sua criatividade através de seus Contos Crônicos. O mais conhecido deles, O Dia do Yuri, até já ganhou uma versão audiovisual pela produtora Cloud Filmes. Escreveu para a Correio Nagô, Jovem Nerd, Iradex entre outros. É um dos colaboradores voluntários do Jornal A Voz da Favela. Sua nova empreitada passeia pelo universo do podcast, sendo idealizador, produtor e editor do O Que Você Está Lendo?, sobre livros e leitura.

2 zeze

Zezé Ifatolá Olukemi é grafiteiro, design gráfico, game designer , escritor, poeta e promotor de anti-racismo e direitos humanos formado pelo Instituto Steve Biko. É praticante do culto Iṣẹṣe Lágbà (religião tradicional yorubá) e pesquisador da cultura tradicional yorubá. Foi conselheiro de cultura do município de Salvador e co-fundador da ITAN Game Development. Atualmente é graduando em tecnologia em jogos digitais pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ele mantem o site zezeolukemi.

AS FARRAS FANTÁSTICAS CONTINUAM

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É galera, a pandemia do novo coronavírus abalou o mundo, nossas vidas e nossos projetos. Tem gente passando por momentos difíceis, com medo, mortes de familiares e conhecidos pela COVID-19 e até sem grana pra comer. Nesse momento, precisamos nos proteger, mas também procurar ajudar o próximo. Sei que nem todos estão com ânimo para ler e escrever. A saúde mental de muita gente está frágil. Mas sei também que muitos estão procurando a leitura e a escrita como instrumentos de fuga ou de reflexão do que estamos vivendo. Nossa antologia Farras Fantásticas continua, firme e forme, em casa. Nosso cronograma foi reformulado. Por enquanto, nossa única certeza é que o prazo de submissão dos contos foi prorrogado para 15/06. Ainda faremos nossa campanha no Catarse e entregaremos aos leitores uma edição em e-book bacana e uma edição em papel belíssima. O Farras é um projeto que valoriza o fantástico nordestino e nacional. Leia nosso edital, clicando na imagem, e mande seu conto.

O HOMEM INVISÍVEL – TERROR DA VIDA REAL

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O que os homens podem aprender com o filme O homem invisível? Porque o problema do machismo, da masculinidade tóxica e da relação abusiva é nosso, dos homens. Sem a gente na jogada, as mulheres deixariam de sofrer a ameaça física e psicológica de namorados, maridos, chefes, colegas de escola, de trabalho ou de qualquer cara que passasse na rua, tendo seus comportamentos nocivos normalizados por um sistema social que inferioriza as mulheres. Pior, que as culpa por serem independentes, por se vestirem do que jeito que bem entender, por escolherem seus parceiros e parceiras, chegando ao ponto de criminalizar e tirar delas as decisões sobre o próprio corpo. Uma mulher sai de casa pela manhã para estudar, trabalhar ou ir na esquina comprar pão e não sabe se retornará sem sofrer um assédio moral, sexual, uma violência física ou com a vida intacta.

A grande sacada da nova versão de O homem invisível foi fazer um suspense de primeira, um entretenimento muito competente, que, ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre um tema tão atual.

O filme preserva alguns elementos do romance clássico de H.G. Wells, publicado em 1897, como a arrogância do cientista e suas pesquisas no campo da óptica. Assim como a ideia do terror social provocado pela condição do homem invisível. De resto, a trama do filme é uma criação do diretor e roteirista Leigh Whannell.

A situação do relacionamento abusivo é muito bem trabalhada, na medida em que o tema se insere nos desdobramentos da história de forma orgânica, casando acertadamente a maneira de contar a história e o que ela pretende discutir, seja pela fala dos personagens, seja pelas cenas de tensão e violência.

O homem invisível conta com a produção da Blumhouse (que também produziu o filme Corra! que fala de racismo de uma maneira inovadora) e com o talento da atriz Elisabeth Moss (a protagonista da série The handmaid´s tale), que carrega o filme nas costas, mostrando toda a fragilidade de uma mulher traumatizada pela violência doméstica, mas também revelando força e determinação quando necessário.

Destaque também para a montagem precisa, a fotografia que provoca aflição com tomadas abertas e espaços vazios, a direção de arte frequentemente sugestionando a presença do homem invisível, o design de som que mexe com as tensões do espectador e a trilha sonora ora sutil, ora potente, empregada nos momentos certos. Há problemas? Claro, furos de roteiro, falta de desenvolvimento de personagens, atuações medianas e, principalmente, o clímax convencional, em que o eficiente suspense dá lugar a um tipo de ação, de correria, já vista em outras produções.

O fascinante em O homem invisível é utilizarem os recursos do terror psicológico para criar uma alegoria tão contundente, tão incômoda. O homem invisível transforma a vida da mulher que ele ama num inferno, no que atualmente chamamos de gaslighting, que é uma maneira do abusador manipular a percepção da realidade da vítima ao ponto dela duvidar da própria sanidade, levando outras pessoas a fazer o mesmo.

O terror do filme é de dar nos nervos por ser tão real.

O homem invisível (The invisible man, 2020), de Leigh Whannell, 124 min., Blumhouse, Universal e outros

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

CHEGOU A ANTOLOGIA FARRAS FANTÁSTICAS!

farras

Desde o dia 15 de janeiro está aberto o edital da antologia Farras Fantásticas, organizada por mim Ricardo Santos, Ian Fraser, João Mendes e Pedro Duarte. Juntamos nossa vontade e nossas experiências para publicar um puta livro, em parceria com a editora Corvus, para valorizar os autores do fantástico do Nordeste. Ainda não revelamos nosso time de autores convidados, mas está sensacional. É uma galera que traz muito talento e representatividade pro Farras. Porque o Nordeste também é diversidade. Quer fazer parte desse projeto lindo, 100% nordestino e 100% brasileiro? Clique na imagem para saber mais.