FAROESTE NO JAPÃO

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A maneira mais empolgante de conhecer a história do Japão feudal é lendo o clássico Lobo Solitário. As aventuras do estoico ronin Itto Ogami e de seu nem sempre inocente filhinho Daigoro são, ao mesmo tempo, belas e brutais.

O roteiro de Kazuo Koike tem soluções narrativas ora sutis, ora de grande força, além da extensa pesquisa sobre o período Edo (1603-1868), o auge do xogunato, uma espécie de ditadura militar. Como o xogum comandava o país com mão de ferro, os daimiôs (senhores feudais) eram mantidos sob controle, até com o uso da violência. Os daimiôs rebeldes eram massacrados e o nome de sua família caía em desgraça. Os samurais sobreviventes, agora sem um senhor para servir, tornavam-se ronins, figuras errantes, assassinos de aluguel, bandidos de todo tipo. A arte de Goseki Kojima transforma todo esse contexto em imagens de um realismo e de uma fluidez cinematográficos.

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Em Lobo Solitário, a visão de mundo é aparentemente amarga, mas, no fundo, há um senso de justiça. Itto Ogami é um anti-herói à maneira dos cowboys interpretados por Clint Eastwood. Um canalha na superfície, mas que, no final, procura fazer o certo.

Este primeiro volume, relançado recentemente pela Panini, tem nove histórias fechadas, que dá para ler em um dia, de tão viciante. Terá periodicidade bimestral. A saga completa tem 28 volumes. (Quem não tiver tanta paciência pode investir nas edições omnibus da Dark Horse, em 12 volumes.)

A Panini lançou a série pela primeira vez no Brasil há mais de dez anos. Esta nova edição está bem cuidada. Bom papel, boa encadernação, revisão atenta. A diferença para a primeira versão está na contra capa, que agora tem a arte de Kojima. Na anterior, ambas as capas tinham a mesma arte de Frank Miller & Lynn Varley. Infelizmente, esta nova versão não tem os textos no posfácio sobre os autores do mangá, os bastidores da criação da série e o contexto do período Edo. Sugiro que baixem o scan da versão antiga apenas para ler estes textos, são bem interessantes.

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As aventuras do Lobo Solitário foram originalmente publicadas em revista, de 1970-1976. O formato de história curta casa muito bem com o estilo seco de seus criadores. Claro que existem certas liberdades para aumentar a dramaticidade dos acontecimentos (cabeças de cavalos, pernas e braços de inimigos são arrancados com um golpe de espada) e a estrutura das histórias segue uma formulazinha. Mas está valendo. A única coisa que incomodou mesmo foi o tratamento às personagens femininas. Elas ou são frágeis ou são mau-caráter.

Lobo Solitário é uma saga obrigatória para fãs de quadrinhos. E, para o público em geral, é uma leitura instrutiva e cheia de emoção.

Lobo Solitário volume 1, de Kazuo Koike e Goseki Kojima, 288 págs., Panini

AVALIAÇÃO: RUIM, REGULAR, BOM, MUITO BOM, EXCELENTE

3 comentários

  1. Evelyn Postali · janeiro 18, 2017

    Fiquei com muita vontade de ler esse mangá. É mangá, não é? Gosto de hq, mangá, graphic novel… Acho que histórias contadas através de imagens são coisas maravilhosas. Há umas semanas atrás eu li O Coração do Cão Negro. Uma edição caprichada e uma história que via ter continuação.

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    • ricardoescreve · janeiro 18, 2017

      Lobo Solitário é considerado “o” mangá pela arte e narrativa. Influenciou muita gente. Clássico com todo mérito.

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  2. O Taverneiro · janeiro 18, 2017

    Lobo solitário é muito bom mesmo!

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